Deus não é atípico
Aquele final de semana foi bastante atípico, era sexta feira e saímos do escritório com o verbo nascido de um neologismo, SEXTOU, parece que era uma necessidade, um desabafo, uma vingança contra os outros dias, dizer bem alto SEXTOU! E cada um, após breve despedida pegou seu rumo, seguiu seu destino e uns foram para o barzinho, outros para seus lares. O sextou para mim tinha sabor de descanso, casa, aconchego. Depois de um banho gostoso, sala, vídeo game e um bom filme, enfim, uma cama aconchegante . Então o telefone toca, atendo, era o Robinho avisando que o Renato e o Felipe tinham sofrido um acidente de carro e morrido, e o enterro, sem velório, seria já no sábado. Demorei a digerir aquela triste informação e na minha mente vinha uma frase dita pelo personagem Chicó, do Auto da Compadecida, que na verdade era do grande Suassuna: “Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, a morte, porque tudo que é vivo morre.” Não sei por que isso veio a minha mente, mas o fato é que, nunca concordei com o fato de morrermos. Por que morrer se é tão bom viver? A morte é cruel, triste e injusta. No fim, eu estava mal, consumido por aquele pensamento de morte. Chegou, enfim, o outro dia e com ele a dura missão de ver meus amigos, que no dia anterior gritavam SEXTOU, um neologismo, repentinamente foi trocado por um verbo velho, mofado e arcaico, MORRER. Cada um estava numa sala, havia choro, desespero, sofrimento na sala onde estava o corpo do Felipe, entrei, chorei a perda do meu amigo, sofri com os parentes e outros amigos. Fiquei muito mal, com raiva do criador da morte. Entrando na outra sala, algo diferente acontecia, não havia choro, mas risos, ao invés de desespero, serenidade, e o sofrimento cedera lugar para a esperança. Fiquei confuso, no entanto, o ambiente estava agradável, e melhorou ainda mais quando um senhor alto e moreno chamou todos para mais perto e disse: “A morte não é o fim meus amados, ela desfaz um processo criado por Deus, onde o homem veio do pó e ao pó tornará, e quando isso ocorre vem a verdadeira vida”. De repente, tudo pareceu ter feito sentido e a revolta em mim desapareceu e naquele fim de semana atípico aprendi algumas coisas, que hoje fazem parte da minha vida, e o meu verbo preferido agora é VIVER, que nunca me pareceu tão autêntico. Aprendi sobretudo, que o criador, sobre o qual descarregava minha raiva por conta da morte, era também o criador da vida, a qual nos será tirada em determinado momento, para que nos seja apresentada a verdadeira vida, eterna e bela, sem dor, sem choro, sem desespero, sem sofrimento. O que Deus faz não é atípico, porque tudo é feito para um fim.