O CACHORRO QUE ME MORDEU NÃO ERA VIOLENTO, BRAVO, MAS INTELIGENTE!

Leu bem o título desta crônica? Pois bem, deu entender isto mesmo. Logo que aquele cão abocanhou a minha perna, transformando a minha calça quase numa saia, sabe o que o dono dele me falou com empáfia?

- O meu cachorro só lhe mordeu porque você o encarou e ele "percebeu" o medo nos seus olhos!

Cachorro bravo não, psicólogo. Engraçado. Só que até que aquele homem tinha um pouco de razão, ou seja, eu estava com muito medo daquele cachorro, pois eu já conhecia a sua fama de mordedor, de bravo etc. Bem, o certo é que isto fez nascer uma súbita cinofobia em mim que, a partir daquele dia procurei evitar sintonizar um cachorro com receio dele também "descobrir", "deduzir" que eu estivesse com medo, com pavor dele.

O certo ou errado é que após alguns anos, logo que me casei, enquanto o nosso primeiro filho não chegava, a minha esposa ganhou uma linda cachorrinha e para não criar uma primeira desavença, encrenca e briga consenti, mas com um pé lá e outro cá ou, sem querer fazer nenhuma ligação, com "a pulga atrás da orelha". E até que, paulatinamente comecei a gostar daquele animalzinho, mas ele lá e eu cá. A minha esposa era um grude só com a Lesse, esse era o seu apelido. Como eu trabalhava à noite, obviamente as duas tomavam conta da nossa cama de casal. E por causa dessa mania, certa ocasião falei uma asneira que, sem querer ofendi a minha parceira. Querendo fazer graça fora de hora soltei esta pérola que ela, evidentemente, não gostou:

- Deixa eu dormir logo antes que o meu lado da cama esfrie.

No ato ela levou como uma indireta ofensiva e por causa disto me deixou a ver navios por alguns dias. Para finalizar, a convivência com a Lesse não demorou muito. Pois logo que a nossa filha nasceu, brotou concomitantemente naquele animal um "ciúme" que a situação ficou tão incontornável que tive que providenciar imediatamente uma coleira e uma casinha para aquela cachorrinha dormir. Só que esta atitude não adiantou nada, pois faltou combinar com a beneficiária daqueles apetrechos. A Lesse entrou numa "greve" e não queria comer mais nada até que adoeceu e ao levar ao veterinário ele constatou que, com a presença da nossa filha, ela se sentiu automaticamente rejeitada e ficou sobrando sobre qualquer afago. E o seu final só não foi mais triste porque quando recebi a visita de um colega de trabalho e ele gostou da lesse, aproveitei que a minha esposa não estivesse em casa e perguntei:

- Você gosta de cachorro?

- Eu nem tanto, mas a minha esposa adoooora!

- Quer levar esta daí?

- Está brincando!....

- Nunca falei tão sério.

Quando a minha esposa chegou e percebeu a ausência da cachorrinha barulhenta e que dava muito trabalho e eu lhe contei a verdade, o seu pranto imediato foi maior como se alguém da nossa família tivesse falecido. Fez de tudo para eu ir buscá-la e simplesmente falei que aquilo não seria possível. A lesse já. A alegria da nossa casa era a nossa filha, Marianna, com dois enes, diga-se de passagem.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 28/09/2023
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