O ano tem treze meses

Em um dia comum como quase todos, Gregor ia trabalhar. Ele sentia que trabalhava mais do que lhe diziam e que recebia menos do que o que produzia. Então em alguns dias que estava mais cansado do que sempre, dizia:

– Era melhor se eu fosse uma barata, não precisaria trabalhar.

Apesar de não ser barata, sua casa era bem suja e tinha algumas baratas, suas únicas companheiras. Trabalhava a semana toda durante quase todo o dia, ficava duas horas no ônibus para ir ao trabalho, duas para voltar, em casa só comia e dormia, raramente dava tempo limpar nos fins de semana.

Havia final de semana que dava tempo viver, alguns raros que seu chefe não ligava e ele terminava todas as tarefas domésticas a tempo. Gregor não era interessante e não tinha quem se interessasse por ele, pois lhe faltava tempo para se tornar interessante ou achar alguém com interesse. É possível dizer que a maior parte da vida de Gregor estava sendo gasta com o trabalho que nada lhe iria render, apenas permitia que seu chefe não precisasse trabalhar.

Seu maior medo é que toda sua vida fosse dedicada ao trabalho e que um restinho fosse para uma aposentadoria que mal desse para pagar os remédios. Mas ele não precisaria mais se preocupar com isso. Mal sabia, mas num dia de trabalho comum como quase todos, Gregor teve um burnout e morreu. Sucumbiu após os excessivos dias de trabalho, as horas excessivas.

Poucos dias antes, num domingo em que resolveu deitar no sofá e viu o calendário, meteu-se na tediosa tarefa de contar os dias. Constatou que no ano havia os 12 meses e mais uns 22 dois dias úteis de trabalho. Naquele dia se revoltou, mas nada podia fazer, era trabalhar ou morrer de fome, ele morreu de trabalho.