O DIA QUE FREI DAMIÃO PERDEU A CALMA
Frei Damião de Bozano chegou na cidade mais católica do estado de Alagoas, Viçosa. Início dos Anos 70, e eu tinha na época entre 11 a 12 anos. Foi um evento muito festejado e aguardado pela cidade e pelos católicos.
O palco principal estava montado em frente à igreja Matriz. Na ladeira.
Antes houve uma grande procissão na cidade, com o pároco da cidade, Padre Jatobá caminhando, acompanhado pelo Frei Damião. À tardinha, após percorrer as ruas de Viçosa, a multidão se aglomerou ao redor desse palco que terminaria numa grande celebração. E assim aconteceu com a ladeira completamente cheia de gente que não dava pra enxergar os paralelepípedos do chão.
O primeiro imprevisto aconteceu logo no início da celebração. Padre Jatobá estava falando ao microfone, quando um “zum Zum zum” iniciou no meio do povo. Acontece que 2 bois desgarrados no pé da ladeira e que assustados ameaçavam partir pra cima daquela multidão! Na hora Frei Damião pegou o microfone do Padre e com a sua voz fina e fraquinha que ele tinha, gritou pra multidão:
- Silêncio!
E a multidão silenciou.
Ele:
- Não se preocupem! Eu paro esses bois!
E olhando na direção dos 2 gados ordenou:
- Saiam daqui!
E inacreditavelmente as rês desgarradas deram meia volta e saíram em disparada passando na frente do Cine Godoy e foram em direção à ponte.
Pronto, todos ficaram estupefatos e já começaram a dizer q era o “Primeiro milagre” de Frei Damião.
A celebração continuou e eu, como todo menino curioso de interior, estava lá ao lado do palco junto com muitas senhoras de véu na cabeça. Estava eu e meu amigo Pedro.
E chegou a hora tão aguardada : a homilia do Frei Damião. Ele com sua voz pequenininha e ele tb pequenininho e encurvado, começou a falar e foi nessa hora que as senhoras de véu enlouqueceram! Um barulho, uma zuada, parecia mais q o Frei era um cantor ou um ídolo da TV. Elas queriam a todo custo pegar na batina do Frade e quando pegavam puxavam aos solavancos, e Frei Damião incomodado. De vez em quando ele olhava pro nosso lado onde as senhoras eufóricas estavam. Mas teve uma hora em que puxaram com muita força a batina dele, ele parou de falar, um silêncio ensurdecedor! Frei Damião olhou em direção à mim, com aqueles olhos miúdos, mas com tanta raiva e gritou:
- Pare com isso! Silêncio! Cale a boca!
A voz agigantou-se e a ira também! Agora a multidão se calou e todos os olhos se voltaram pra onde estava eu, Pedro e as senhoras eufóricas!
E Frei Damião continuou dando ordem e olhando nos meus olhos:
- Saia daqui! Saia! Satanás! Sa-ta-nás!!!
E apontava pro início da ladeira…
Eu e Pedro descabreados e vermelhos de vergonha, ao invés de fazer de conta que não era com a gente, o que na realidade não era mesmo, porque quem estava perturbando eram aquelas senhoras de véu, mas elas ainda tiveram a ousadia de ficar olhando pra gente e balançarem as cabeças negativamente desaprovando nós dois. Pode isso?
E o Frei Damião continuava e sentenciava:
- Saiam daqui…
Eu e Pedro fizemos igual aos dois bois, colocamos os “rabos entre as pernas” e fomos juntos descendo a ladeira e o povo todo olhando pra gente, ainda ouvi até um princípio de vaias… fomos em direção ao Cine Godoy…
Foi um dia inesquecível e marcante, onde fomos injustamente expulsos de um evento religioso, dois adolescentes que perderam naquele momento a fé no Frei Damião e nas senhoras de véu da Viçosa!