Convite - BVIW
Quando Alice chega ao fundo da toca do coelho, onde caiu movida pela curiosidade, precisa passar por uma porta minúscula, e encontra um frasco com o rótulo "beba-me", que a faz encolher. Logo porém se depara com outra circunstância onde ser grande é crucial. E encontra um doce com os dizeres: "coma-me", que realiza a transformação. Hoje somos autores e personagens dos próprios enredos criados nas redes sociais. E, no rótulo atado à nossa imagem, está escrito: "olha-me", "admira-me", "consuma-me". Como se estivéssemos numa vitrine de corpos e rostos, buscamos o melhor ângulo, o filtro mais favorável, o cenário mais espetacular para anunciar ao mundo quem imaginamos ser. No fundo, mais um produto na prateleira infinita do universo capitalista, que a tudo abarca e devora, tornando, também as pessoas, mais um bem de consumo revertido em cifrões para as plataformas.
Fiquei pensando se houvesse uma vitrine, não de rostos e corpos e lugares paradisíacos ao fundo, mas uma onde estivessem expostos os abstratos atributos da nossa personalidade. O que atrairia sobre nós o olhar e o desejo? A coragem, a generosidade, a empatia e o acolhimento? Ou seria o afeto gratuito e incondicional, o senso de humor, a lealdade? Termino essa crônica deixando a vocês o convite para estender essa reflexão que começou com a queda de Alice: que colocaria você na vitrine da sua alma hoje?