A MOÇA FEIA (BVIW)

Estive mais perto dela num grupo de viagem, quando fomos ver algumas belezas do Sul deste nosso Brasil. Eu já conhecia de vista, e de longa data, a moça feia, mas foi durante aquele passeio, que vi o quanto era bonita. Num dos almoços, ela sentou-se à minha mesa. Foi aí que reparei na pele lisa e morena, nos olhos amendoados, na boca que parecia bordar as palavras entre covinhas, na fileira de dentes brancos e bem alinhados. Eu nunca a tinha visto tão de perto. Haveria ali algum equívoco? A culpa não era minha: sempre ouvi dizer de sua rispidez e arrogância — e isso, para mim, é ser feia.

Sempre pensei que um bom sorriso, um jeito afável e gentil de acolher são a melhor vitrine para se anunciar o produto valoroso da simpatia. E nossa protagonista era, sem dúvida, uma moça desvitrinizada de tais atributos. Findo nosso breve almoço, fiquei pensando se mudaria de ideia a respeito dela. Mas, apesar das tentativas, nossa conexão ainda era zero. Depois de constranger, desnecessariamente, alguém da mesa, ela foi isolar-se entre as fumaças de seu cigarro. Olhei-a de novo, de longe. Decidi-me: despida de carisma, e ignorando qualquer esforço para mudar a própria paisagem, continuava feia a moça tão formosa. Sem a vitrine da simpatia, não se vai a lugar algum.

Tema da Semana: Vitrine (crônica)