PRIMAVERA PREMIADA
O ocorrido se deu na primavera de 2020, e todos os dois ovinhos descascaram. Foi muito legal! O texto também foi escrito em 2020, logo após a descoberta da postura.
A notícia de que uma vida está por vir é sempre algo majestoso. Tal advento sempre é aguardado com muitas expectativas: ansiedades, sonhos, imaginações e uma infinidade de outras coisas que nos cercam e avivam a força que pulsa dentro de nós. Mais do que isso, é a certeza de que fazemos parte do ciclo, e que ele se renova a cada período. Com a chegada da primavera deste ano, aconteceu algo inusitado em nossas vidas. Descobrimos que uma mãe resolveu se aconchegar às portas de nossa casa para trazer à luz os seus rebentos. A vida tem as suas formas de acontecer, e por mais inexplicável que pareça, ela sempre nos surpreende.
Quando viemos morar aqui na rua Colorado, cerca de dois anos atrás, mais precisamente em dezembro de 2018, decidi fazer um pequeno jardim na frente do terreno. Plantamos diversas flores e folhagens. Rosas, dálias, lírios e vários bulbos, que na primavera do ano passado nos retribuíram o serviço com o desabrochar de lindas flores. Naquela ocasião, juntamente com as flores, acabei por plantar uma muda de ora-pro-nóbis.
A ideia de cultivar o ora-pro-nóbis tinha como intensão primária o consumo de suas folhas em nossa culinária diária. No entanto, uma única vez fizemos uma coleta para a omelete do almoço. Depois, sem qualquer razão especial acabamos por abandoná-lo no jardim. E por falta de tempo, que foi se tornando cada vez mais escasso, fui deixando o jardim por conta do acaso: sem poda, sem cuidado, sem atenção. Vez ou outra, parava diante dele e me perguntava: “Quando vou ter tempo de mexer nas plantas?” Mas esse momento não chegava. Chegou o mês de maio e não consegui disponibilizar um instantinho se quer para, pelo menos, realizar a poda das roseiras.
Por isso, ao sabor dos efeitos naturais, os galhos e ramos foram crescendo. Também o ora-pro-nóbis, que logo ganhou a altura das grades, com seus galhos se emaranhando nos ferros. E os ramos começaram a ultrapassar a altura da grade. Assim, chegamos à nossa segunda primavera morando aqui na Colorado. Confesso que por minha vontade chegaríamos a esta estação com o jardim todo alinhado, mas não foi possível.
Mas, por incrível que pareça, foi muito bom o abandono do jardim. A vida, de fato, é uma dádiva, e em muitos momentos acontece de forma que parece mágica. Aproveitando a ocasião propícia, uma mãe achou por bem se aconchegar nos emaranhados dos galhos do ora-pro-nóbis, fazendo seu ninho de forma espetacular na proteção das folhas.
Com isso, acabei por trazer de volta um recorte de minha infância que estava guardado no subconsciente. Foi quando encontrei num arbusto próximo do rio Japuiba, lá na minha cidade natal, em Angra dos Reis, um ninho com três posturas. Daquela vez, era um ninho de canário terra. Fiquei vários dias cuidando o ninho e foi muito legal vê-los sair da casca e voarem do ninho.
Agora, estamos diante de um ninho com duas posturas. Desta vez a vida nos brinda pela graça de uma rolinha, uma espécie de pomba que vive nos cerrados.
Estamos muito felizes com a visita e com a escolha. Vamos torcer para que as posturas descasquem com todo o sucesso que a vida merece.