Os Silêncios de Madureira

Era uma tarde quente em Madureira, onde o sol, impiedoso como um diretor de teatro sem escrúpulos, lançava seus raios sobre os ladrilhos das calçadas. Lá, em uma esquina pouco movimentada, três irmãos tomavam seus postos atrás de uma modesta banca de verduras.

O mais velho era surdo, um homem de semblante austero que parecia carregar o peso de uma vida de silêncio. O irmão do meio era mudo, e sua expressão era uma dança de gestos e olhares, uma linguagem que apenas os três compreendiam. Por fim, o caçula era cego, com olhos vazios que nunca viram a luz do dia.

Eles vendiam verduras, um negócio modesto, mas era a forma que encontraram para sobreviver naquele mundo barulhento e caótico. O surdo cuidava das contas, enquanto o mudo atraía os clientes com gestos eloquentes, e o cego selecionava as melhores verduras com um toque hábil.

A cena era comovente e estranhamente poética. Os transeuntes, muitas vezes distraídos por suas próprias preocupações, eram forçados a prestar atenção naqueles irmãos incomuns. Eles eram um espetáculo silencioso no meio da cacofonia urbana.

Enquanto os clientes se aproximavam da banca, o surdo escrevia os preços em um caderno velho, o mudo fazia seus gestos encantadores e o cego entregava as verduras frescas e crocantes. Não havia palavras, mas havia uma comunicação profunda entre eles, uma harmonia silenciosa que os unia.

À medida que o dia avançava e as vendas prosperavam, os irmãos sorriam discretamente, como se compartilhassem um segredo sagrado. Eles eram uma lição viva de que a comunicação vai além das palavras, que a conexão humana é possível mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.

Madureira, com toda a sua agitação e ruído, tinha um cantinho de serenidade naquela banca de verduras. Os três irmãos, cada um com sua deficiência, eram uma prova de que a vida encontra seu próprio equilíbrio, mesmo nas situações mais improváveis.

E assim, enquanto o sol se punha sobre Madureira, os irmãos surdo, mudo e cego continuaram a vender verduras, lembrando a todos que a verdadeira comunicação não reside nas palavras, mas nos corações que se entendem sem precisar delas.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 26/09/2023
Código do texto: T7894449
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