Eterno

Vivemos numa era em que a realização de feitos extraordinários é o grande desejo humano.

Estamos em constante busca pelo reconhecimento e satisfação, profissional, pessoal, amorosa, familiar.

Acordamos com o pensamento de que hoje vamos fazer algo grande, não pelo feito em si, mas pelo que as outras pessoas vão nos dizer, pela aceitação social do proporcionado pelo feito.

Não vivemos mais por nós, mas pelos outros. Não fazemos mais o que nos apetece, fazemos o que pode nos trazer ganhos sociais, não é só dinheiro, é poder, reconhecimento, é parecer ser algo apenas para fazer parte do grupo.

Nos preocupamos tanto com isso que esquecemos do que realmente importa, esquecemos os ensinamentos mais básicos, esquecemos de viver.

O romper dessa ligação social é tarefa insólita, árdua, solitária, por vezes - digamos - impossível.

Não precisamos romper definitivamente com a necessidade de sermos aceitos no meio social, vivemos em sociedade e precisamos na maioria dos casos, nos adaptar.

Qual seria a solução para esta questão? Eu não sei dizer.

Não creio que haja uma solução definitiva, absoluta, mas o que pode nos levar para mais próximo dela seria reduzir a marcha, observar o oferecido pela vida, o que seu corpo e sua alma pedem, na grande maioria das vezes vemos, mas não enxergamos.

Queremos agradar, mas não nos preocupamos em saber como agradar de verdade.

Nessa euforia e necessidade de satisfazer a grande massa social para nos sentir satisfeitos, esquecemos que a satisfação momentânea, passageira, não satisfaz realmente, o vazio continua e vai mostrar sua cara no primeiro instante em que sua cabeça se recostar no travesseiro a noite.

Precisamos aprender a eternizar momentos, fazê-los serem inesquecíveis, tornar cada situação vivida única, precisamos parar de querer conquistar grandes feitos e nos preocupar em aproveitar aqueles que já conquistamos diariamente.

O que dizemos importa em nossas vidas ou deveria realmente importar.

O que importa em sua vida?

Sua família, filhos, emprego, bicho de estimação, sua liberdade?

O quanto nos doamos para tornar os momentos que passamos com quem e com o que realmente importa inesquecíveis, eternos?

Nos preocupamos tanto com o fim das contas que não curtimos o caminho até lá e perdemos com isso grandes belezas, pessoas surpreendentes, momentos incríveis.

Lutamos para conquistar algo e quando conseguimos não tem o gosto que deveria ter por que não sentimos o prazer daquela conquista, nos deixamos levar pelo que falam dessa conquista, nos preocupamos com o impacto que ela causa ou causará perante o meio vivido e, com isso, permitimos que os outros definam se esta conquista serve ou não serve ou nos condicionamos a idealizar algo para nossa vida, tornando tudo que não se assemelha àquele ideal, impróprio, imprestável.

Retomando…

Me disseram uma vez que eu deveria me entregar de verdade, nem que fosse apenas na fração de segundo daquele momento vivenciado, pois ali eu poderia estar perante um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida, aquele momento poderia se tornar eterno pela minha entrega a ele.

Ao ouvir isso questionei-me sobre quantos momentos eternos tivemos em nossas vidas. Quantas pessoas tornaram-se importantes para nós apenas por terem eternizado uma fração de segundo que seja? Pouquíssimas, eu te garanto.

Quantas pessoas deixamos passar por nossas vidas sem ao menos lembrar-nos delas depois, como se não tivessem existido?

Quantos momentos vemos em fotos, vídeos ou sendo relatados por outras pessoas os quais nem lembrávamos mais? Muitos!

Não sabemos eternizar momentos, não aprendemos a viver realmente as situações que nos dispomos a viver, talvez pelo pensamento de se não nos apegarmos será mais fácil nos desfazer, desvincular, ou somos movidos pelas opiniões alheias sobre aquele momento ou aquela pessoa, fazendo com que não nos permitamos viver aquela situação em plenitude para não romper com os laços sociais, com o meio em que estamos inseridos.

Eternizar o momento é romper com esse dogma social. É permitir viver intensamente nem que seja por aquela fração de segundo capaz de tornar eterno o momento vivido, é um pouco da solução dos nossos problemas, pois ao aprendermos a eternizar os momentos em que vivemos, viveremos realmente.