NATAL
Sabendo o que sei sobre o Natal, passando o que passei em tantos Natais, não vejo razão para gostar desta festa; o Natal.
Pra começar, o Natal não é o que dizem ser. Estudos teológicos comprovam que o verdadeiro nascimento do Menino Jesus não se deu nessa época (dezembro). Mas isso seria o mínimo se na verdade Ele tivesse nascido sobre o pedestal de fartura e riqueza que a maioria faz questão de simbolizar esta festa. Ou se estes, que assim o fazem, ao menos usassem metade do que gastam em seus deleites para levar o alimento às crianças famintas em tantas favelas ou simples periferia da vida...
Não vejo razão pra gostar do Natal, por lembrar-me de meus Natais na infância. Não tinha um pai, nem uma boneca, nem um vestido ou chinelo novo, ou sequer um alimento decente na mesa. Quantas vezes, no Natal, comemos farinha de mandioca com alguma fruta, ou só a fruta que minha mãe conseguia árduamente... Quantas vezes na adolescência; vesti roupa emprestada pra não passar o Natal com os vestidos velhos, já que meus amiguinhos apareciam lá em casa pra me ver...
Não vejo razão pra gostar do Natal, porque enquanto tantos estouram seus limites em prazeres desnecessários, outros passam privações. Crianças que gostariam de ganhar um brinquedinho das casas de utilidades de um real. Mães que queriam apenas um quilo de arroz e feijão para alimentarem seus filhos abandonados pelo pai. Velhinhos que só queriam um carinho do filho que os abandonou num abrigo. Doentes que só queriam ver o médico entrar na enfermaria e dizer: Hoje eu vou te dar alta. Pais, que gostariam de poder apagar o passado e verem com eles, o filho que está preso...
Não vejo razão pra gostar do Natal, por saber que tantos aproveitam a inocência e lerdeza de outros, para roubá-los e até violentá-los...
Mas o incrível, é que até gosto do Natal. No Natal vejo imperar as luzes da cidade, das casas e até dos corações. E o meu, não obstante; sorri...
Até consigo gostar do Natal, porque vejo que ao menos nesta data, a maioria das pessoas, tem o sentimento de fraternidade, quer seja apenas num abraço, ou mesmo num aperto de mão. Vezes só numa mensagem por email, telefone ou cartão, mas ali está uma confraternização: Feliz Natal!
Hoje, já longe das grandes adversidades de minha vida, dando graças a Deus pela vitória, torço e me esforço por ainda ver uma maior conscientização de um verdadeiro Natal social. Onde o papai Noel que somos nós mesmos, se preocupa em levar o presente desejado a uma criança carente (muitas deixadas em orfanato), a ajuda a uma mãe aflita por causa da falta do pão, o carinho a um velho que só quer que alguém lhe estenda a mão, um sorriso a um doente, uma visita a um encarcerado arrependido, o sacrificado pedido desculpas a um chato que nos ofendeu no trânsito...
Ver pelo menos no Natal, as pessoas adocicarem mais os corações...
Feliz Natal!