Paineira velha

Certamente, "Liu & Léu, cantaram muito bem uma bela música sertaneja em homenagem "a paineira velha daqueles tempos. Já se passaram muitos janeiros. Ainda é tão boa a tua sombra amiga. Hoje é pousada dos boiadeiros. Já não existe mais o terreiro. E o meu ranchinho o cipó cobriu. E a sua casca cresceu de novo. E o nome dela também sumiu. Paineira velha fiel amiga. Nossos destinos são sempre iguais. Se estou contente você floresce. Quando eu padeço suas flores caem. Nascemos juntos paineira velha". Eu ainda lembro muito bem da velha "paineira". Ela ficava bem na beira da estrada e deveria ter mais de cinquenta anos. Ela tinha mais de cinco metros de altura. Ficava bem na beira da estrada de chão . Ali bem em frente à colônia dos lavradores. Em sua maioria os colonos eram italianos ou espanhóis.No fim da tarde após a labuta na roça, muitos deles sentavam embaixo da velha paineira. Lá tinha um grande banco de tronco de arvore. Sentados e bem a vontade conversavam. Entre um cigarro de palha e outro colocavam os assuntos em dia. Falavam do preço da saca de café, da colheita, comentavam sobre a política no município, sobre o tempo e tantos outros assuntos. Ali ficavam conversando horas e horas até o anoitecer. No sítio ainda não tinha energia elétrica, não tinha asfalto nas estradas, e nem telefone. A diversão no bairro era ouvir o radinho de pilha, assistir o jogo de futebol aos domingos, participar dos terços e novenas nas casas e ir à missa aos domingos na capela do bairro. Com a crise do café na agricultura, a maioria dos lavradores mudaram. Alguns foram para a cidade tentar uma nova vida agora longe de suas terras. Outros rumaram para bem mais longe, foram para as grandes cidades de São Paulo, Jundiaí, Campinas, Guarulhos, Santo André e tantas outras. Eu estive lá bem recentemente e vi que hoje já não existe as colônias há muito tempo. Quem saiu do sítio não voltaram. As casas velhas de madeira ficaram abandonadas pelo tempo e outras foram demolidas ou engolidas pelos matos ou capins dos pastos. Já não existem mais os cafezais. Já não existe mais o campo de futebol. A escolinha do bairro deu lugar a uma mangueira de gado leiteiro. A capela ainda está lá de pé sobrevivendo ao tempo. Agora a energia elétrica e o telefone chegou ao bairro um pouco tarde para uns poucos pingados de agricultores que ainda ficaram no bairro. O movimentado bairro de outrora desapareceu. E a "paineira" velha, esta sim ficou e até hoje está lá no mesmo lugar de sempre marcando gerações que passaram...

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 22/09/2023
Reeditado em 23/09/2023
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