Amor
Em algumas digressões passadas foram abordados temas bem complexos como o medo e a coragem de viver, abordados de forma apartada como se um não dependesse do outro ou vinculasse seus atos.
Passamos por certos momentos na vida que farão com que tenhamos medo de muitas coisas - a perda de um ente querido nos fará temer a morte; o rompimento de um relacionamento nos fará temer o início de outro; uma traição sofrida nos fará temer uma nova, a ponto de desconfiarmos de tudo e de todos.
Esses medos moldam nossa forma de ver a vida de acordo com a importância que damos a cada acontecimento, por vezes nos paralisamos, em outras seguimos em frente, mas sempre vamos refletir esses acontecimentos, como espelhos de nossa alma.
Como questionado anteriormente:
É possível voltar a confiar no ser que te traiu?
Voltaria a colocar a mão no fogo, mesmo vendo as marcas das queimaduras anteriores?
Confiaria cegamente em quem furou seus olhos?
Como responder a todas essas perguntas? O amor e a esperança.
Sim, o amor como o sentimento mais profundo que o ser humano pode sentir aliado à esperança de que as coisas serão diferentes, são os únicos capazes de nos fornecer a coragem necessária para confiar novamente, ungir nossas mãos para protegê-las de novas queimaduras e fornecer novos olhos para enxergar além do medo.
Não é por temer a morte que vamos deixar de nos relacionar, nossos entes queridos e nós mesmos não viveremos para sempre.
A morte é a única certeza que temos na vida, vida essa que nos é dada com a finalidade de usufruirmos da companhia de nossos entes queridos até o momento que serão levados de nós.
É um ciclo e deixar de amar por medo de perder nos acovarda e nos aprisiona a uma vida sem sentido. Relacionamentos são feitos para unir os seres humanos em volta de algo em comum, um sentimento, um desejo, um querer.
O rompimento de um relacionamento quase sempre atordoa o raciocínio humano, principalmente para aquela parte que sente realmente algo, os sentimentos de frustração, impotência, raiva, decepção, são comuns nesses casos, mas não é porque terminou que não valeu a pena, serviu ao menos como aprendizado.
Como o ser humano não é um ser solitário, aprendeu a viver em comunidade para sobreviver, necessita sempre estar se relacionando, social ou afetivamente.
Rompimentos sempre vão ocorrer, elos serão quebrados em diversos níveis de vida, amizades, amores, trabalho.
Vez ou outra nos veremos diante de um rompimento. Relacionamentos terminam e outros começam.
Temer se envolver novamente apenas fará com que cresça em si a sensação de impotência, depressão, sofrimento.
Não é porque um vínculo terminou que não será capaz de manter outro ou outros e quem sabe até mesmo transformar um rompimento em um meio para o novo começo.
Uma traição - seja de que forma for - faz com que o ser humano perca a ingenuidade do início e voltar a confiar no mesmo traidor ou em outra pessoa, se torna uma tarefa árdua.
O medo de ser traído sempre estará presente, o que não se pode deixar acontecer é ser vencido por ele. Ao se paralisar pelo sentimento de traição, a mente humana não consegue ver além do ocorrido.
Muita coisa envolve entender uma traição, nos colocar no lugar do outro com empatia para tentar ao menos saber o que o levou a trair fará com que tenhamos a consciência do todo, das razões e das vontades que levaram àquele acometimento.
A empatia nesse caso não será usada para justificar o ato de traição, mas para ver com os olhos do traidor e assim entender e aprender com o ato em si, única e exclusivamente para livrar-se do peso que este sentimento trás.
Seremos sempre traídos, até Jesus foi, por um dos que tinham sua lealdade. Como disse outra digressão, a traição só nos é tão impactante quando cometida por aquele a quem dedicamos nossos melhores sentimentos, jamais esperaríamos por tal ato e assim sucumbimos ao fato.
Só o amor é capaz de nos fazer entender que perderemos entes queridos, romperemos relações e seremos traídos, assim como trairemos a confiança de alguém, somos humanos, esse é nosso maior dom e nosso maior pecado.