Serenidade Faz a Diferença
Ontem, vendo um programa na TV, alguém comentou sobre algo que ficou popular até certo ponto, de que os aeroportos estavam parecendo rodoviária, dado à facilidade das classes mais pobres poderem viajar de avião, coisa dos preconceituosos de plantão.
O fato é que me lembrei do nosso retorno do Peru, no início de 2017, quando fomos passar as festas de final de ano junto aos familiares do meu genro, que é de lá.
Embarcamos em Lima em um voo noturno e logo que nos acomodamos fomos interpelados pela comissária de bordo, nos propondo uma troca de assentos, no intuito de favorecer a um casal que estava com uma criança que facilitaria para eles ficarem todos juntos. Não vimos nenhum inconveniente, passamos para a fileira da frente, cedendo nosso lugar a eles. Recordo que foi tudo cercado de muita gentileza dos dois lados, senti-me feliz por colaborar.
Como raramente durmo, pude em muitos momentos, ouvir as conversas do referido casal, que estava logo atrás de nós. Parecia mais um monólogo, ele falando e ela ouvindo. Eram bem mais jovens do que nós. O tom dele em relação à sua mulher era professoral, ela só ouvia e concordava, não era agradável ouvir o rapaz falando daquele modo.
Quando desembarcamos em São Paulo, acabei ficando um pouco para trás na fila das cabines da polícia alfandegária. Meus familiares passaram e não me ative em quem estava na minha frente, desocupou uma cabina destinada a idosos, eu fui em direção e essa cabina, momento em que uma jovem, que poderia ser minha neta, gritou comigo de forma ríspida dizendo que eu estava furando a fila. Muito tranquilamente recuei e cedi o lugar para aquela jovenzinha, que ocupou então a cabina dos idosos.
O sujeito, aquele para quem cedemos as poltronas no avião, entrou na onda da jovem e me passou lição de moral, de forma mau educada. Tranquilo, sem deixar aquilo alterar o meu humor, segui em frente.
Na caminhada em direção à esteira das malas, a esposa do rapaz, chegou ao meu lado e de forma discreta pediu desculpas em face da atitude de seu marido. Eu disse a ela que ficasse tranquila, que ele já estava desculpado.
Fui muito simpático com ela, por ter tido certeza que era uma sofredora. Certeza amparada no modo como ouvi as conversas dele e o silêncio dela, no avião.
Não acreditaram que eu tinha mais de sessenta anos, e eu não quis entrar em nenhuma polêmica.
Lembro feliz da minha serenidade, eles que lutem com a vida!