Sangue puro

Sentado no banco, esperei ansiosamente o sangue. As hemoglobinas já contaminadas, não carregavam a quantidade de oxigênio necessário para fazer as trocas gasosas. Impurezas esbarravam nos relacionamentos, e a língua destilava um veneno meio amargo. Abri o celular e li quase todas as mensagens, as vistas embaralhavam, fiquei tonto, escorei a cabeça na parede branca, e lembrei-me das palavras proferidas por um pregador de uma igreja centenária.

- O Cordeiro, com seu sangue me lavou! Do calor inextinguível, da mistura barata, dos resquícios documentais e da língua afiada salvou-me. Eu estava morto nos meus delitos e pecados, Ele me deu vida e com seu sangue então comprou, justificou-me.

- Tudo certo, levante-se da maca. - Transfusão bem sucedida, disse o rapaz de jaleco branco.

Abri os olhos, e num vigor sem igual, levantei-me. Foi o fim da espera, naquele dia recebi sangue puro.