Levantando do túmulo

Nós, gremistas, na tarde do último sábado, como diz aquela oração católica, “descemos à mansão dos mortos”. Durante longos minutos permanecemos mortos e sepultados. Mas, por teimosia, a tradicional teimosia gremista, continuamos nos mexendo no caixão. E enquanto a nossa alma gremista se debatia no “fogo do inferno”, os nossos craques, em campo, incorporavam Mike Taison, Eder Jofre e outros pugilistas menos famosos, e descarregavam todas as nossas broncas no miserável juiz que decretara a nossa morte inventando um pênalti. Pela primeira vez na vida, nós ficamos com medo do vermelho: o cartão vermelho do apitador levantava e baixava mais do que o “cara-crachá” do Severino do programa de TV. E em poucos minutos, o nosso time, que já era pequeno para a grandeza do Grêmio, ficou menor ainda por causa da fila de jogadores mandada para o chuveiro...

Mas Gravataí e Cachoeirinha estavam em campo: um menino que nasceu em Gravataí e que mora em Cachoeirinha caminhou, silencioso, para baixo dos paus. O juiz colocou a bola na marca do pênalti, onde um outro jogador gremista, sorrateiramente, havia cavado um buraco com a chuteira. E foi exatamente por este buraco que escorreu toda a vantagem que estava sendo transformada em festa pela torcida do Náutico: a bola partiu dos pés do batedor para o cantinho da goleira. Mas Galatto deu um pulo maior do que os territórios de Gravataí e Cachoeirinha somados, e defendeu aquele que seria o tiro de misericórdia. O Grêmio pulou do caixão.

Ninguém sabia que o céu e o inferno ficavam mais próximos do que o Olímpico e o Beira-Rio. Mas a torcida gremista descobriu isso em sete segundos. Anderson pegou a bola, aplicou um drible no Batata e este zagueiro do Náutico fez a única coisa que sabe fazer e vinha fazendo desde o início do jogo: um coice sem murchar as orelhas. E o juiz, pegou o cartão vermelho, que já estava com as pilhas fracas de tanto expulsar jogador do Grêmio, e mandou o zagueiro do Náutico plantar batatas...

O Náutico parou, perplexo com tudo o que estava acontecendo. Mas Anderson não parou: pegou a bola, se intrometeu entre os zagueiros e enganou o goleiro com um toque sutil. O mágico gol do mais mágico ainda menino do Grêmio provocou uma magia com cheiro de bruxaria: o Grêmio saltou vivo do caixão e o Náutico, mortinho, afundou no túmulo. Mais uma vez, como tem acontecido tantas vezes, o azul liquidou com o vermelho.

Confesso para vocês que eu não queria que o Grêmio fosse campeão. Torcia para ele ficar em segundo lugar e garantir a vaga. Eu não queria este troféu da 2ª Divisão, pois acho que será um sacrilégio colocar este monstrengo ao lado do troféu de Campeão do Mundo. Mas, nestas alturas, depois de estar morto e sepultado, aceito tudo. Até a gozação dos colorados, dizendo que teremos que o lugar desta estrela de campeão será na bunda do calção, e não no peito da camiseta. Isso até pode ser verdade, pois no peito dos gremistas não tem mais lugar para tantas estrelas. O Inter, em compensação, com a equipe repleta de estrelas, só consegue ver estrelas nas noites estreladas. Não ganham nada. E já estão tremendo de novo, pois sabem que o Campeonato Brasileiro de 2006, ao contrário deste, terá vários Gre-Nais. O fantasma do Grêmio, que levantou vivo do túmulo, ainda vai assombrar muito todos os colorados...

Milton Souza
Enviado por Milton Souza em 30/11/2005
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