Crescer
Do nada, um dia, observando a vida dos adultos, me deparei com uma questão muito peculiar, a maioria deles não é feliz!
Se analisarmos a vida dos adultos de forma mais aprofundada, nos deparamos com o fato de que seus desejos, anseios, sonhos, simplesmente não se realizaram ou nunca se realizarão.
Essa digressão se direciona àqueles que seguem as regras, àqueles em que sua doutrina de vida se baseia no sentido ético social, do caráter e da conduta humana relacionados a certos princípios comumente chamados de “princípios morais”, com emprego de adjetivos como “bom”, “mau”, “certo” e “errado”.
Àqueles que se preocupam com o respeito ao próximo. Bem como àqueles que creem que fazer parte do social lhes trará estabilidade.
Dito isto, passamos a análise da vida adulta!
Quando criança o grande desejo é crescer como se isso alterasse todo o sentido da vida. Imagina-se que ao crescer poderá fazer o que se quer com liberdade de expressão, sem regras ou ditames. Acha-se que sair da casa dos pais é a carta de alforria que precisava para ser feliz, a vida seria perfeita - chegar a hora que quiser, não dar satisfações a ninguém, não se submeter ao mando e desmando dos outros, ser dono da própria vida - Ledo engano!
Li certa vez que ser adulto significa não ter vida própria, viver em torno do que a sociedade lhe impõe. Forte isso, mas verdadeiro, senão vejamos: ao nascer o ser humano é talhado a crescer, casar, ter filhos, ser bem-sucedido financeiramente e esperar a morte chegar.
Particularmente, acredito que a vida adulta se resume, com suas exceções que justificam a regra, a:
Não ter o relacionamento que desejava, mas não poder largá-lo, pois envolve filhos. Afinal, são tantos problemas envolvidos, tanta ética em crise e identidade perdida que o fato de ir embora pode ser um fardo para uns, enquanto deveria ser a porta de uma solução concreta e permanente.
Abrir mão da estabilidade de um relacionamento requer muita coragem, largar tudo e sumir no mundo para seguir seus sonhos requer além de coragem, certa irresponsabilidade. Muitos até conseguem, mas a grande maioria é induzida a voltar para onde estava, pois ali estaria seguro dos infortúnios da vida.
Sair para comprar cigarro e não voltar mais impõe o custo de deixar sua família desamparada, por vezes sem condições de se manter sozinha.
Falaram-me certa vez: “Meu defeito é ser responsável”; “Depois que tive filhos minha vida acabou”; “Ser mãe/pai é padecer no paraíso”. Quanto drama não?
Mas todos reais. No momento em que se têm responsabilidades, sempre se abrirá mão da sua felicidade para cumprir com ditames sociais, no momento em que se têm filhos deixa-se de pensar em si, a vida daquele outro é mais importante que a sua própria, assim vive-se para o outro. Seguindo este princípio, também abrirá mão de sua felicidade em prol da felicidade do outro.
A grande pergunta: é corajoso quem consegue romper com esse dogma social e simplesmente ir atrás de seus sonhos sem pensar no que acontecerá ou é corajoso quem abre mão de seus próprios anseios em prol do bem-estar alheio?
Ser adulto é abrir mão ou tomar decisões difíceis o tempo todo.
O emprego não é o sonhado, mas paga as contas. A dedicação não é a mesma, mas é suficiente. O envolvimento é lenda, mas o plano de saúde é bom.
Os amigos não são eficientes, mas topam uma cerveja na sexta à noite.
Os planos já nem surgem na mente com tanta frequência, mas as urgências fazem perder a tão saudosa noite de sono.
Muitas vezes aquele emprego não sustenta apenas a si como outros que dependem de ti. Se não fosse isso, não pensaria duas vezes para chutar o balde, mas é importante ter em mente que será você a limpar o chão molhado, são consequências altas demais para serem assumidas.
Assim, passará a vida indo trabalhar sem ânimo, chegando já querendo ir embora, passará a vida se imaginando em outro lugar, desejando fazer outra coisa e não se dedicará àquele trabalho como deveria. Não estará fora nem dentro, se tornará em grande parte dos casos num profissional medíocre, apenas esperando o horário para ir embora.
Bem como, ser adulto é não ter o tempo que gostaria para fazer tudo o que deseja. Com filhos, relacionamento, trabalho, estudo, sobra tempo para mais alguma coisa? Por vezes não se consegue cuidar da própria saúde, pois tem outras prioridades. Perde-se a saúde para ganhar o mundo e vende-se o mundo para recuperar a saúde.
Enfim, diante de tantas responsabilidades, da necessidade de se cumprir regras, da vida das pessoas que dependem, abre-se mão de quase tudo que lhe faria feliz.
Quando há a tentativa de romper este estigma, uma chuva de conceitos sociais lhe barra. Alguns nos seguintes termos:
“Deixe o sentimento de lado, isso não leva ninguém a nada”;
“Não largue seu emprego, está muito difícil encontrar outro”;
“Estabilidade é o que importa”;
“E daí que você não faz o que gosta, o que importa é o salário no final do mês”;
“Você tem uma família, pense nela, não em você”;
“Olha o que conquistou, vai abrir mão de tudo por uma aventura? Tá doido?”;
“Você jamais vai encontrar alguém melhor do que o que tem, contente-se”;
“Relacionamento é tudo igual, de que adianta sair de um que te dá estabilidade e status para procurar outro no qual terá os mesmos problemas ou piores?”;
“Cresça e pense nos outros, não seja egoísta a ponto de pensar só em você”;
“Não seja infantil, tudo isso é sonho. A realidade é bem diferente”.
Escolhemos crescer? Não, mas escolhemos como crescer e essas escolhas definirão nosso futuro, não é possível ter tudo, sempre teremos que abrir mão de certas coisas, pessoas, sentimentos, sonhos para conseguirmos outras.
O preço para conquistar o que deseja pode ser alto, mas o preço para manter o que deseja é mais alto ainda.
Crescer é determinar até onde conseguirá ir ou quanto está disposto a pagar para conquistar o que lhe é prioridade, é definir qual preço está disposto a pagar pelas escolhas que faz.