🔵 O furto furtivo
Não seria nada fácil levar o Vectra prateado. As luzes estavam acesas, então havia gente na casa. Provavelmente, estavam todos dormindo, pois era bem tarde, no entanto, tratava-se de uma casa de praia em Ubatuba. Esse cenário exigia uma dose extra de precaução, já que os hábitos das famílias nas férias são imprevisíveis.
Para não acordar a família, abrimos o portão e empurramos o carro sem ligá-lo. Pronto, ganhamos a rua e fomos andar na cidade. Tudo saiu conforme o planejado. A molecagem quebrou o marasmo que seria uma noite jogando cartas e nos empanturrando de refrigerante barato numa casa isolada no litoral de São Paulo.
Sim, “furtamos” o carro do pai do meu amigo, com a colaboração da turma hospedada na “choupana”. Apesar do deliberado conluio e da ação sub-reptícia, por uma infeliz coincidência, a turminha tinha descendência e dependência da vítima.
Depois dessa “associação criminosa”, subimos ruas, descemos, contornamos, aceleramos, freamos e fingimos ser os donos daquela “nave espacial”. Tudo com muito cuidado, para não transformar a molecagem numa ocorrência que envolvesse a intromissão de autoridades e necessitasse da presença do proprietário do veículo.
Depois de tudo, por maior que tenha sido o cuidado na devolução do automóvel, fomos descobertos. Alguém delatou, por puro sadismo, zueirinha e inveja. Deve ter sido difícil jogar “Rouba-monte”, bebendo ‘Dolly guaraná’, ou dormir enquanto acelerávamos o ‘Vectra’ na noite de Ubatuba.
Fomos convencidos de que o crime não compensa, ainda mais depois que ficou evidente que o motivo foi fútil, portanto, sem qualquer justificativa. Assim, terminou minha desastrosa e atrapalhada vida no submundo imundo do “crime”. Por índole, sei que causaria prejuízo a qualquer quadrilha. Mas terminar nossa incursão no ramo do furto sendo trapaceados por um bando de pirralhos, bem como levando um “puxão de orelha” foi bastante embaraçoso e humilhante.