A Complexa Dança Entre A Corrupção E A Ética
Nesta jornada de reflexão sobre a natureza humana e a influência do meio
ambiente, mergulhamos em um dilema que muitos debatem: até que ponto somos
moldados pelo nosso entorno? Somos realmente ‘frutos do meio’? A oportunidade
molda nosso comportamento moral? Ao longo deste texto, exploraremos essas questões
intrigantes, sustentando a ideia de que, embora o ambiente exerça influência, a
capacidade de escolher e moldar nossos princípios éticos permanece em nossas mãos.
É comum ouvirmos o ditado “a ocasião faz o ladrão”, no entanto, prefiro
concordar com as palavras do renomado escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de
Assis, que nos legou a assertiva de que: “Não é a ocasião que faz o ladrão; o provérbio
está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”. Em
outras palavras, somos seres dotados da capacidade de escolher nossos próprios
destinos, mesmo quando tentados pela corrupção ou por atos moralmente questionáveis.
Aqui, entra em cena a capacidade inerente que nós, os seres humanos, temos de
tomar decisões conscientes e moldar nosso caráter ao longo da vida.
Thomas Hobbes lançou luz sobre o abismo da condição humana ao afirmar que somos inatamente maus devido ao instinto de sobrevivência a qualquer custo. Em contrapartida, em suas
palavras, a sociedade tem a nobre missão de educar, civilizar e tornar o homem
sociável, impondo-lhe disciplina e obediência. Pensemos juntos; Será que um indivíduo corrupto, aquele que escolhe o lucro pessoal em detrimento dos valores éticos, pode tersido influenciado pelo ambiente em que cresceu, sem que isso o condene a uma vida de corrupção inabalável? Ou será que, como defende Machado de Assis, esse indivíduo já nasceu com uma tendência ao furto, apenas esperando a ocasião propícia para agir?
A influência do ambiente, seja ela familiar, cultural ou social, é um fator
importante na formação de nossas crenças e valores.
No entanto, é igualmente importante lembrar que cada um de nós possui a capacidade intrínseca de refletir sobre suas ações e fazer escolhas diferentes, se assim desejar. Então, continuemos a explorar
as perspectivas desses dois eminentes pensadores de épocas diferentes, Machado de
Assis e Thomas Hobbes, para explorar a complexidade da natureza humana e sua
relação com o ambiente que a cerca. Ambos os pensadores nos levam a indagar: somos
ladrões por natureza, apenas esperando a oportunidade certa, ou nascemos como seres
moldáveis, cujas ações são influenciadas pelo ambiente em que crescemos?
A resposta talvez resida em algum ponto intermediário, onde a condição
humana, dotada de livre-arbítrio, pode oscilar entre o egoísmo e a virtude. Por outro
lado, não somos meros ladrões natos, nem anjos imaculados. Somos influenciados pela
interação com o mundo ao nosso redor, pelas oportunidades e pela educação que
recebemos. A sociedade, essa entidade complexa, tem o poder de influenciar nossas
escolhas, moldar nosso caráter e nos transformar de ‘furtadores em potencial’ em
‘cidadãos exemplares’ ou ‘modelos de cidadania’. No entanto, o desafio está em criar um
ambiente que estimule o crescimento moral e promova a empatia, tornando-nos seres
melhores, ao invés de ficarmos reféns de criarmos ambientes que proporcionem
oportunidades.
Essa é a verdadeira essência da liberdade humana: a capacidade de decidir por si
mesmo o caminho a seguir, independentemente das circunstâncias que nos cercam.
Além disso, a sociedade desempenha um papel crucial em criar um ambiente que
estimule a reflexão, o autoconhecimento e a busca pela ética pessoal. Portanto, ao invés
de nos prendermos à discussão política, concentremo-nos na complexidade da natureza
humana e na riqueza das escolhas individuais. Somos todos moldados pelas
circunstâncias, mas somos igualmente capacitados para moldar nosso próprio destino
ético. Dessa forma, é nessa capacidade de escolher e evoluir que encontramos a
verdadeira essência da humanidade.
Portanto, na dialética entre Machado de Assis e Thomas Hobbes, encontramos
um chamado à reflexão. Somos, em essência, criaturas moldáveis, influenciadas pelo
contexto e pelas oportunidades que a vida nos oferece. É nosso dever, como sociedade,
criar um ambiente que incentive o florescimento do que há de melhor em cada um de
nós, transformando não apenas os potenciais transgressores, mas também aqueles que se
desviaram do caminho da ética, em cidadãos exemplares. Somente assim construiremos
um mundo mais humano e justo para todos, onde a liberdade individual e a busca pela
virtude sejam valorizadas como os pilares fundamentais da nossa existência.
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Lista de referências usadas no texto “A Complexa Dança entre a Corrupção e a
Ética”
Machado de Assis. “O Crime do Padre Amaro.” In: Obra Completa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Thomas Hobbes. Leviatã. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz
Nizza da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1997.