O copo

Em digressões passadas foram abordados temas como: o postergar de uma dívida, de uma decisão em um relacionamento - seja amoroso, profissional, fraternal, e o impacto do silêncio nos relacionamentos humanos -.

Esses temas tiveram como ideia precípua demonstrar de forma fática o que ocorre nos relacionamentos diversos quando não há o equilíbrio entre os sentimentos envolvidos, entre as partes ou entre o que se deseja momentaneamente e o que realmente se quer.

Esse desequilíbrio desencadeia uma série de acontecimentos que acabam por inflar os sentimentos, encher o copo da impaciência, desesperança, do arrependimento.

Quanto mais se posterga certas situações de desequilíbrio, mais sofrimento atrai e mais cheio fica o copo, assim chega um momento em que qualquer situação, por mínima que seja, torna-se um tormento insuportável.

Muitos que estão de fora da relação pensam tratar-se de uma tempestade em copo d’agua e que não se trata de algo tão grave.

Só quem está naquela situação sabe o quanto segurou, quanto tempo esperou para a tomada de decisão, o suportado até aquele momento, o quão difícil foi a trajetória até ali.

O copo começa a encher logo no primeiro encontro.

Esvazia-se com sentimentos bons, compreensão, conversa, entendimentos. Enche com desentendimentos, indisposições, silêncios, ciúmes.

Assim, o tempo passa e o relacionamento se fortalece e equilibra o encher e esvaziar do copo ou o copo enche até a borda tornando o relacionamento vulnerável a todo o tipo de sorte.

O copo quando cheio não precisa de muito para transbordar, uma pequena gota é capaz de ocasionar uma catástrofe no relacionamento.

O que não se pode esquecer é que por menor que seja a razão que culminou na tempestade, ela só ocorreu em virtude de inúmeros fatores que encheram o copo.

Nenhuma tempestade chega sem aviso prévio, as pessoas é que tendem a ignorar os sinais e insistem em dançar na chuva.

E quando a tempestade chega, se vitimiza como se não tivesse tomado conhecimento de sua presença iminente.

A consciência do quão cheio está o copo definirá até que ponto vale a pena lutar.

Se, e quando a tempestade chegar, resta essa mesma consciência para não culpa-la por algo que há muito estava fadado a ocorrer.