Sabedoria
O fruto da árvore do conhecimento foi o que tirou os homens do paraíso e os colocou em um mundo de provações. Pesada essa frase! Me peguei pensando no que há por trás dela, que mensagem quer passar.
Bem, se formos entender o contexto onde ela está inserida temos que ao ser humano foi dado, no paraíso, o controle de tudo existente com exceção de uma arvore em especifico, a árvore da Ciência do Bem e do Mal, essa árvore é citada na Bíblia, nos capítulos iniciais do livro do Gênesis, correspondendo a um importante elemento da criação segundo a crença judaico-cristã. — Gênesis 2:9; 2:16-17; 3:1-24.
No Jardim do Éden, Deus utilizou duas árvores com objetivos simbólicos: a "árvore da vida" e "a árvore da Ciência do Bem e do Mal". Ele deixou o homem comer de todas as árvores que quisesse, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se o homem provasse esse fruto, nesse dia morreria (Gênesis 2:16-17). Não respeitar o decreto de Deus referente a esta última árvore teria resultado na queda do homem.
O fruto da árvore deu conhecimento tanto do bem quanto do mal. Antes de comer, o homem era inocente, não pensava na possibilidade de fazer coisas ruins. Quando seus olhos se abriram, começou a pensar em coisas ruins e ficou envergonhado (Gênesis 3:6-7). Agora, em vez de ter o pensamento todo voltado para coisas boas, tinha o pensamento dividido entre o bem e o mal.
Nesse dia o homem sofreu morte espiritual – ficou separado de Deus. Por causa disso, a partir desse dia o homem perdeu a vida eterna e começou a caminhar para a morte física.
Segundo relatos, a mulher (Eva), desobedecendo a ordem de Deus, come do fruto, oferecendo posteriormente ao homem (Adão), que também o come, provocando o que se chama de pecado original da humanidade.
Uma interpretação interessante coloca Adão e Eva como um homem só, sendo que Eva representa os sentimentos e paixões, e Adão, a inteligência e razão. Desta forma, de acordo com os ensinamentos da Igreja Católica e de outras tradições que diz que os demônios não possuem acesso direto à inteligência do homem, a serpente só poderia tentar o homem (Adão e Eva) pelos sentimentos e paixões, por Eva representados. Eva, então, leva a tentação até a inteligência, por Adão representada.
Tendo o dito, acredito que todo o enredo seja uma fábula, como quase tudo que há no livro sagrado, um ornamento para dizer que ao homem tudo lhe era permitido e que Deus havia guardado para si o conhecimento de como as coisas foram feitas e o porque de tudo e todos, já sabendo da natureza do homem de questionar a si e ao outro.
Dado ao livre arbítrio inerente ao ser humano e essa característica questionadora, comer do fruto do conhecimento era mais do que esperado, acredito eu que Deus, nesse caso, se apegou à esperança de que o homem poderia vencer seu ego e a necessidade de ser o fiel da balança, ou seja, querer ser Deus.
A existência humana é imensuravelmente complexa e mesmo com todo o conhecimento que um ser humano pode adquirir no decorrer de sua vida, seja sobre o bem e o mal, ou até mesmo sobre o porque de as coisas serem como são, não seria possível a ele deter um décimo do real sentido da vida.
O que é pior cada novo conhecimento adquirido o ser humano se sente mais próximo de Deus e assim capaz de definir parâmetros sobre a condição e consciência humana. Quem sabe mais, pode mais! É isso mesmo? Saber e conhecimento são sinônimos?
Com o conhecimento de algo ou sobre algo, surge a necessidade de mostrar aos outros que se sabe mais, que sua verdade se sobressai ao outro, desconhecendo esse que a sabedoria é justamente o oposto do conhecer, um ignorante possui uma sabedoria imensa, sabedoria essa que quem detém o conhecimento por vezes não é capaz de perceber.
Não percebe, o ser humano, que com o conhecimento vem a responsabilidade diante do que lhe é conhecido, responsabilidade sobre o fato e sobre o que o fato pode acarretar no contexto social em que está inserido, esquecesse que o conhecimento adquirido é uma parte ínfima do todo, cega-se para o que realmente importa, em que esse conhecimento pode ser útil, em que esse conhecimento pode ser bom. É somente com o tempo que esses dois termos, conhecimento e sabedoria, se unem tornando quem detém o conhecimento sábio em seu uso para si e para o outro.
É mais fácil um ignorante ganhar os reinos dos céus que alguém que detinha o conhecimento e não soube usa-lo para o bem. Outra frase pesada!
Quantas e quantas vezes o conhecimento foi utilizado para o mal, sendo o ser humano conhecedor do bem e do mal, após comer do fruto proibido, preferiu ele usar do conhecimento para escravizar, matar, torturar, menosprezar, diminuir o outro, em pequena e grande escala eu diria.
Quanto mais o ser humano se acha conhecedor das coisas da vida, mais e mais se afasta do que realmente importa e do que vale a pena viver: a comunhão com as coisas de Deus, o amor, a compaixão, a bondade de coração.
Ser sábio em boa parte das vezes é esquecer-se de que sabe algo, engolir o ego de sentir-se melhor que o outro por isso ou aquilo e ouvir com o coração, deixar sair de si apenas o que pode ser útil para a comunhão.
A pior ignorância vem daquele que acha que sabe tudo, pois na bem da verdade ele não sabe nada, tornando-se ignorante de seu papel social e da razão de estar aqui.
Aquele que sabe que não sabe coisa alguma está mais perto de Deus que aquele que acha que não tem nada a aprender, pois àquele é dada a oportunidade de evoluir, se conhecer e conhecer, com cada criatura que no seu caminho cruzar, o verdadeiro sentido da vida, mas à esse, por estar fechado em si mesmo, não há caminho no mundo que o leve de volta ao paraíso.