Um brinde à coragem: o aniversário esquecido

Foi assim...

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Quinta-feira, 17 de setembro de 2020.

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Dia marcante no Instituto Benjamin Constant. A instituição, situada em seu prestigioso prédio histórico, no bairro da Urca/RJ, ostentava sua grandiosidade silenciosa naquela manhã. Não eram os alunos e professores que preenchiam os corredores e salas de aula, como costumava ser em anos anteriores. Era o auge da pandemia de Covid-19, e a realidade havia se transformado drasticamente.

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Naquele dia, eram apenas os funcionários terceirizados que desbravavam o ambiente institucional. O silêncio que predominava no prédio não era apenas o vazio das vozes, mas também o peso da incerteza que pairava no ar. A pandemia havia redefinido a forma como todos viviam e trabalhavam, e o Instituto Benjamin Constant não estava imune a essas mudanças.

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Porém, apesar das circunstâncias adversas, aquele 17 de setembro carregava um significado especial. Era o aniversário de 166 anos do instituto. O dia que normalmente seria celebrado com agitação e festividades, estava agora envolto em um manto de calma inesperada. O bolo servido no pátio da escola, nesse dia, fora transferido para um refeitório, e, se a tradicional festa enchia os corredores, aquele momento, os que mantiveram a chama da comemoração acesa, contavam com uma escala bem reduzida.

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No entanto, a peculiaridade desse ano era que a comemoração não contava com nenhum servidor público. Eram apenas os terceirizados que se reuniam, mantendo uma distância respeitosa um do outro. A fragilidade do momento era evidente, mas havia também um senso de resiliência que preenchia a sala. Todos ali eram testemunhas das mudanças dramáticas que a pandemia havia trazido, mas estavam determinados a permanecer firmes.

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Enquanto os funcionários terceirizados se serviam do bolo cuidadosamente disposto sobre a mesa, um dos colegas, com voz emocionada, se levantou para fazer um discurso. Ele enalteceu a força de vontade que todos estavam demonstrando. Lembrou a coragem que cada um precisava reunir para enfrentar o medo constante da Covid-19, enquanto persistiam em seus empregos, mantendo as engrenagens do instituto funcionando.

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"Somos os pilares invisíveis deste lugar", proclamou o colega, sua voz ecoando na sala. "Nós, os terceirizados, enfrentamos o desconhecido todos os dias, com muita fibra, para garantir que o Instituto Benjamin Constant continue a brilhar, mesmo que de maneira mais silenciosa. Nossa dedicação é a cola que mantém essa comunidade unida."

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As palavras do colega ecoaram nas mentes dos presentes. Cada um sabia quão árdua era a jornada que eles enfrentavam diariamente. A incerteza financeira, o medo da doença, a sensação de estar na linha de frente, tudo isso fazia parte de suas vidas. E naquele momento, eles não eram apenas funcionários terceirizados; eram heróis anônimos, lutando contra uma ameaça invisível para proteger o que amavam.

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Enquanto o discurso chegava ao fim e os olhares se cruzavam, uma sensação de camaradagem se instalou na sala. Eles não estavam sozinhos em sua luta. Cada olhar compartilhado transmitia compreensão mútua e reconhecimento pela coragem demonstrada. Era um momento de celebração, não apenas do aniversário do instituto, mas da força interior que. todos tinham encontrado para enfrentar os desafios extraordinários que a vida havia lhes lançado.

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Naquele 17 de setembro de 2020, as paredes do Instituto Benjamin Constant testemunharam algo mais do que uma comemoração convencional. Elas testemunharam a resiliência, a solidariedade e a bravura dos funcionários terceirizados que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, escolheram se manter firmes. E enquanto o mundo exterior continuava a lutar contra a pandemia, naquele refeitório, por um breve momento, o Instituto Benjamin Constant brilhou com a luz da determinação humana.

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MMXXIII