Bussunda — aspectos de uma biografia
Há alguns dias, assisti a um vídeo, no YouTube (não me lembro da fonte), no qual Marcelo Madureira lamenta que Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, talvez tenha morrido por falta de socorro médico. Corria o ano de 2006 e Bussunda estava com alguns componentes da trupe Casseta & Planeta acompanhando a seleção brasileira de futebol, na Alemanha. O humorista tinha jogado uma pelada, entre amigos, não se sentira bem e se recusara a procurar um hospital com receio de que, caso fosse hospitalizado, perderia o jogo do Brasil contra a Austrália, dali a dois dias. Uma pena...
O citado acontecimento é narrado com detalhes na biografia “Bussunda — a vida do casseta”, assinada pelo jornalista Guilherme Fiuza, um texto fluido, em linguagem leve e relatos da vida e do contexto desse biografado, que se tornara figura célebre no Brasil a partir dos anos 90, até seu desaparecimento físico, narrado, aliás, com talentoso lirismo nas páginas finais do livro.
Admiradores do artista, teremos a oportunidade de ver sua vida à toa na juventude (“Tinha um nome a lazer”, dizia ele), sua vida universitária desleixada, sua chegada à tv – em programa no qual os humoristas criticavam a Globo em plena Globo (viva a audiência!); saberemos, também, de seus ídolos como Pelé, Zico, Roberto Carlos e, até mesmo, Ronald Golias, cujo tipo de humor era tão diferente do protagonizado por Bussunda & cia. Diante de Zico, o humorista tremia e se entristeceu muito por entristecer o Galinho por ocasião do corte de Romário da seleção, em 1998, o que foi atribuído ao ex-craque flamenguista. Bussunda criticou, e Zico não gostou!
Não poucos vezes, o leitor se pegará rindo e até mesmo gargalhando com situações relatadas, quer na reprodução de esquetes do programa, quer em momentos vivenciados por Bussunda. Nas eleições de 2002, Bussunda está em passeata com a mulher, Angélica, na Vieira Souto. O humorista vestia-se de Lula, quando viu faixas de apoio a Collor e apupos dos homens ricos. Gritou que ia morar na casa deles. O “nós vamos morar aí” foi ecoado pela gente simples que por ali estava. Nada pior para Lula, candidato no qual vestiam a roupagem de comunista. Ruim pra Lula, mas a piada era ótima... É curioso como aquele clima ainda sobrevive na nossa realidade!
Em uma greve na universidade, o estudante Bussunda faz um discurso articulado, com ideias de esquerda afinadas com a plateia. E termina pedindo que a greve só acabe com a revogação do capitalismo. Um escárnio, que não lhe rendeu simpatias... Bussunda foi enxotado.
Fã de biografias não autorizadas, incluo o texto de Fiuza entre os recomendáveis a admiradores ou não desse personagem inteligente, tímido, desbocado – no fundo a grande liderança de um grupo de humor, que fez história na televisão brasileira... Com coragem, esculacho, verbo solto e politicamente incorreto, Bussunda deixou sua marca e mereceu a bela biografia. Falo sério!