Rosa morreu de câncer em pleno OUTUBRO ROSA
Rosa era uma jovem senhora na faixa de 40 anos, morava num bairro periférico e fazia pães e bolachas para vender, para completar a renda da família. Rosa amava rosas e tinha um lindo jardim de rosas. Havia rosa vermelha, amarela, azul, cor de rosa, violeta, branca. Também havia rosa em miniatura, arbustiva, híbrida de chá, rasteira e trepadeira.
Durante o dia muitos pássaros, abelhas, borboletas e beija-flores vinham enfeitar aquele recanto tão lindo. Toda gente ficava maravilhada com aquele jardim tão encantador. No meio dele havia uma árvore grande, embaixo dela um banco, onde Rosa lia Drummond, Cora Coralina, Vinicius de Moraes, Mário Quintana e outros.
Um certo dia ao tomar banho notou um pequeno caroço em seu peito. E achava que era normal. Dias depois o caroço aumentou e assustada foi agendar uma consulta no Centro de Saúde. Mesmo partilhando do seu problema, demorou alguns meses para ser atendida. A médica recém formada pediu alguns exames com urgência, e demorou um certo tempo para fazer os mesmos.
Depois alguns meses Rosa foi diagnosticada com câncer na mama. Rosa foi informada que como paciente tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no SUS, no prazo de até 60 dias contados a partir do dia em que for assinado o diagnóstico em laudo patológico. Começou o tratamento 180 dias depois...
Rosa passou pela remoção do peito, depois veio várias sessões de quimioterapia, radioterapia e outros. Ficou muito debilitada e perdeu seu lindo cabelo castanho. Emocionalmente se sentia no fundo do povo. E lutava para manter viva a chama da esperança.
Começou um tratamento que deu certo. Tomava Trastuzumabe. Todos estavam muito feliz com o resultado. No meio do tratamento não teve mais acesso ao remédio, pois a Ministra da Saúde por questão ideológica, não liberou, as verbas para o mesmo e para os outros remédios tão essenciais. Os médicos fizeram de tudo, para conseguir o remédio, mas não chegou a tempo. Impotente um deles chorou muito, ao ver o tratamento pela metade, e a sentença de morte declarada.
Rosa lutava dia e noite para viver, e aos poucos estava se definhando. Quando podia sentava em seu jardim e conversava com as rosas. E as rosas pareciam entender sua dor e sofrimento. E as roseiras misteriosamente aos poucos foram morrendo também. Rosa morreu e suas roseiras também. Não sobrou nenhuma para contar história.
Triste ironia do destino, Rosa que amava as rosas, morreu serenamente num OUTUBRO ROSA. OUTUBRO ROSA que ainda é Negro para muitas mulheres que não tem acesso há um tratamento digno e estão morrendo a mingua na fila do SUS.
Todos que conheciam Rosa, ficaram comovidos com sua história. Parentes, amigos, médicos, enfermeiros, autoridades, políticos ,estranhos e muitos curiosos levaram no seu féretro, buquês de rosas de todas as cores.
E no meio da multidão, uma louca cantava, fazendo paródia da musica de Rita Lee, Cor-de-rosa choque. "Mulher é bicho esquisito, todo o mês morre, sem tratamento na fila do SUS. Por isso, não provoque, é cor de rosa choque. Oh oh oh oh Não provoque."
Rosa foi sepultada numa vala comum, e nas funduras do horizonte, o céu estava cor de rosa, para prestar o último adeus a Rosa que murchou caladamente em pleno OUTUBRO ROSA.