Uma experiência ruim
Ando em uma idade imprópria para algumas experiências. Uma dessas experiências tive ontem à noite, antes de ter completado 200 aninhos, antes de ter viajado de avião. Acho que experiências ruins deveriam acometer apenas pessoas de mais de 200 aninhos e que já tivessem viajado de avião. Pessoas experimentadas, portanto. Pessoas que não se escandalizariam com o simples fato de avistarem Lua cheia em noite de sexta-feira.
Estas pessoas vividas e viajadas de avião, penso, logo me assusto, estão preparadas secular e astronomicamente para avistarem Lua cheia em noite de sexta-feira e acharem muito normal. Mas acontece que não tenho 200 aninhos nem nunca viajei de avião. Então fico avistando esta Lua cheia sextana que quase ninguém ver e me acho um sujeito extraterrestre. Desses sujeitos extraterrestres que quase ninguém ver, mas que existem para além das estatísticas da astrofísica e das curvas femininas da BR 101.
Um sujeito esquisito, vivendo uma experiência esquisita, talvez ruim. Porque há uma mesa diante desse sujeito esquisito, com cadeiras para sentar-se, apoiar deseducadamente os pés, e esse sujeito esquisito, talvez extraterrestre, vai na contramão, escolhe ficar em pé, vendo a taciturna Lua cheia sextana e distante, sendo que há a seu lado pessoas verticalmente sentadas sorridentes, com pés apoiados nas cadeiras amarelas Skol.
Por que não segue o bom exemplo?
Não é por educação, com certeza. Porque não se pode chamar educada uma pessoa que tem menos de 200 anos e que nunca viajou de avião. Uma pessoa que desfaça a idade e o fato de nunca ter viajado de avião, chamando o Excelentíssimo Senhor garçom e pedido mais uma cerveja. Uma pessoa esquisita e, com certeza, extraterrestre. Uma pessoa que anda a pé na rua, que conversa consigo mesmo quase em tempo integral, que, quando avista Lua cheia em noite de sexta-feira, espanta-se espantosamente.
Uma pessoa surpresa que, ao esbarrar em Lua cheia em noite de sexta-feira, uma vez que há visivel e cientificamente apenas um cielo escuro e distante, espanta-se espantosamente, mas cujos especialistas que o consultam pessoal e formalmente afirmam ser uma pessoa normal, embora nunca tenha viajado de avião.
Com certeza, juridicamente, o veredito dos especialistas conta, mas os astros não mentem: com certeza, é louco esse sujeito.