A PRIMEIRA VEZ QUE FUI A PORTO ALEGRE .
Cheguei ao aeroporto exatamente às 23:00 horas pois meu vôo partia a meia noite e meia. Enquanto aguardava a chamada comecei a folhear uma revista (juro que não era a Play Boy), comi um salgadinho e tomei uma latinha de coca-cola.
Não era a primeira vez que viajava de avião e do fundo do meu coração esperava que não fosse a última (sabem como é, já tinha alguns planos para o próximo final de semana).
Era sim a primeira vez que eu estaria visitando a terra do Rio Guaíba e se desse um tempinho, talvez pudesse ver o Grêmio jogar.
Os alto-falantes anunciaram minha partida e guardando a revista com todo cuidado (juro que não era a Play Boy) me dirigi ao portão de embarque.
A viagem transcorreu na mais absoluta tranquilidade e com o céu claro, da minha janela pude ter uma idéia do tamanho da cidade. Me deu a melhor das impressões.
Após chegar ao hotel, preencher a habitual ficha de hóspedes, recusar um chocolate, água ou qualquer coisa, fui para o meu apartamento. Só queria dormir logo, pois no dia seguinte bem cedo, teria que me apresentar ao escritório da empresa.
Estava com muito sono mas antes de apagar o abajour dei mais olhadinha na Play Boy (juro que não era uma revista), e apaguei.
A manhã estava linda. Lembro-me que a telefonista me acordou exatamente, pontualmente às 7 horas. Deu tempo para tomar um banho e um delicioso café. Enquanto comia uma torrada com geléia (acho que era de goiaba), procurei no bolso do meu paletó o endereço. Era Rua da Praia.
Não me lembrava se em Porto Alegre tinha praia ou não mas por via das dúvidas pedi um conselho e orientação ao garçom que me servia. Não poderia errar. Saindo do hotel, tinha que atravessar a rua e virar a primeira a direita.
Assinei a nota de despesas, desci, atravessei a rua e virei a primeira a direita, que não se chamava Rua da Praia. Tinha um outro nome que não me lembro agora, mas não era Rua da Praia.
Naquela época, tendo pouca experiência e viajado pouco, a minha idéia sobre os gaúchos é que sempre estavam vestidos com aquelas roupas características tipo, bombachas com botas e boleadeiras, lenços no pescoço, chapéu e fartos bigodes. Curioso não ter visto ninguém vestido dessa maneira. E olha que estava na terra do Falcão e do Kleiton e Kledir!
Mas onde era a Rua da Praia ? Esperei que uma senhora de cabelos brancos se aproximasse e pedi informações sobre a localização da tal rua. Ela educadamente me respondeu :”Tú não sabês que já estás na Rua da Praia, tchê?!!!” .
Fui muito bem recebido pelo meu diretor e os colegas gaúchos. Depois das apresentações nossa manhã foi totalmente ocupada por um treinamento especifico, com palestras, filmes, etc. Chegou a hora do almoço.
Éramos vinte pessoas e numa pequena caravana seguimos para uma das churrascarias tradicionais da cidade. Lá chegando, estranhei que os presentes me olhavam com cara de poucos amigos, alguns até de forma bem agressiva.
Não me contive e perguntei a um colega o que estava acontecendo. Ele riu e tranquilamente me respondeu : “Tú querias ô quê ? Estamos na churrascaria dô Grêmio e tú com esta camisa vermelha ?!!!”
Embora eu tentasse me esconder debaixo da mesa, não posso negar que o almoço estava maravilhoso e as carnes simplesmente divinas. Eu até aproveitei a oportunidade para cometer mais uma gafe.
Perguntei para o gaúcho que estava ao meu lado (e nessa hora tive a impressão que todos ouviram minha pergunta) porque antes de servirem a carne o garçom tinha colocado na mesa três pequenas travessas com três tipos diferentes de farinha, se não foi servido nenhum feijão.
Novas gargalhadas, desta vez bem mais demoradas e como já disse, certamente com a ajuda de todos os que estavam na churrascaria. A explicação só veio depois acabaram de rir e era muito simples : para absorver a gordura da carne. Fazia sentido.
As conversas transcorreram na maior animação, regadas por um delicioso e inesquecível vinho gaúcho, até o momento em quem alguém, não sei por quê, resolveu perguntar como se fazia churrasco na minha cidade.
Antes mesmo de acabar minha explicação, outra trovoada de gargalhadas, desta vez acompanhada inclusive pelos garçons. E porque ? Simples , por quê aqui não se fazia churrasco e sim bife na brasa.
Churrasco quem sabe fazer é gaúcho, principalmente quando estão assando um belo cupim (leva um bom tempo para ficar no ponto).
Voltamos ao escritório para mais uma rodada de treinamento e informações e o programa a noite foi um magnífico jantar em outra churrascaria (para evitar qualquer problema fui de camisa branca), onde a conversa animada, o bom vinho e a maravilhosa carne me deixaram recordações, que até hoje não esqueço.
Dormi muito bem, embalado pelo doce cheiro da picanha ao ponto e no dia seguinte estive no escritório só na parte da manhã, pois no final da tarde embarcaria de volta.
Houve as despedidas habituais, votos de boa viagem, convites para um breve regresso e até ganhei alguns presentes (até hoje tenho um chaveiro que retrata um gaúcho autêntico).
Na noite anterior na churrascaria, que soube depois era do Internacional, vi aquele lindo espetáculo dos gaúchos (estavam à caráter, com bombacha e boleadeira) dançando e sapateando sobre umas varas que estavam colocadas no chão.
Refletia sobre todos esses momentos inesquecíveis quando o avião começou a taxiar na pista e levantou vôo. Aí então, como estava na poltrona próxima a janela tive o privilegio de ver um dos maiores espetáculos já vistos na minha vida : o pôr do sol sobre um tapete de nuvens brancas, tendo ao fundo um céu muito azul. Lindo! Inesquecível !
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(Nunca consegui agradecer a hospitalidade do povo gaúcho. Não tive e não tenho palavras. Conto os dias e aguardo com ansiedade o momento de poder voltar. Além de já saber onde é a Rua da Praia, com certeza vou aprender um pouco de gauchês)
(.....imagem google.....)