Romântica

Eu sou. Muito romântica. Sou aquela pessoa que os jovens chamam de emocionada. Só sei estar se for apaixonada. Tem que ter um homem que eu ame apaixonadamente, para quem eu escrevo, em quem eu penso ouvindo música, enfim, é uma bonita razão de viver. Não sei se esse jeito de ser é fruto das minhas leituras de romances vitorianos. Adolescente eu já lia Emily Brontë, conhecia Emily Dinckinson, todo tipo de romance, daqueles cor-de-rosa para jovens donas de casa a um Dostoiévski superintenso.

Sim, Às vezes o amor é inventado. Na maioria das vezes. Como diria o Ferreira Gullar, sou especialista em amor não correspondido. Porque nem precisa ser, basta o amado existir, estar ali para eu ver, curtir meus escritos e me querer bem. Meu coração é assim: vê aquele cara impossível e diz: é ele. Mas vejam só que coisa curiosa, leitores. É a paixão que desperta minha escrita criativa. Passei um tempo sem publicar aqui porque não escrevia, não estava apaixonada, estava morta por dentro, como disse a Clarice Lispector. Eu só existia. Um corpo que trabalhava e cuidava dos gatos. Agora meu coração invernou, se abriu em flor e eu estou amando. Já levei aquele fora que resultou no clichê choro sentido em mesa de bar. A paixão aquietou. Mas não acabou. E tem o meu amor perene que é o Giácomo. Ele é pra sempre. Esse outro é chuva do caju, começou a cair no final de julho, já, já vai passar. Ou talvez emende com as chuvas de janeiro que caem até as águas de março. Não sei. Mas como é bom estar apaixonada, a urgência do coração em se declarar mesmo sabendo de antemão que vai levar um fora. É muito importante falar. Mais uma vez citando Clarice, as palavras, se não ditas ou escritas, te sufocam. O danado é lindo, tem uma leveza de passarinho, ganhou meu coração num jogo de bila, empinando pipa. Tem uma alma limpa, uma carinha engraçada, uma voz aguda que me faz dar risada. Um jeito de menino onde às vezes se vislumbra o homem charmoso que ele vai ser daqui a uns anos. Fico imaginando ele trabalhando, tão jovem e já um cirurgião brilhante, devolvendo a visão a milhares de pessoa, inclusive a mim. Ai, leitores, como é bom amar.