O Outro

Queremos tanto ser notados, vistos, sentidos, vivemos nossas vidas na espera de fazer a diferença nesse mundo.

Nossas preocupações estão tão voltadas para nossos umbigos que achamos difícil ver o que quer que seja que esteja a um palmo de distancia de nós mesmos. Olhamos tanto para baixo, para nossos próprios interesses, que não percebemos o universo conspirando e agindo para que as coisas aconteçam.

Nos importamos tanto em justificar as vicissitudes de nossas vidas, os altos e baixos, acasos, possibilidades, contratempos, que não enxergamos que essas são resultados de nossas escolhas em como tocar o outro. Tudo está interligado, nada acontece por acaso.

Nós somos únicos em si, mas compartilhamos nosso plano da vida com diversos outros seres que, afins aos nossos conceitos e objetivos, dividem ambientes e energias vibratórias, seja material ou espiritual, esse compartilhamento de vibrações, em diversos níveis, é o que nos conecta uns aos outros com a finalidade de alcançar seu objetivo primordial, viver (no sentido de experimentar) a experiência da vida em sua plenitude.

Assim, tudo o que fazemos, sentimos, falamos, pensamos, está conectado e nos conecta ao outro, não apenas todas as variações de ações e escolhas individuais e suas consequências, mas todas as possibilidades da realidade e seus desdobramentos desde o início da existência até hoje e depois.

Nossas vibrações se reverberam pelo universo, atraindo energias semelhantes e repulsando tudo que não está na mesma sintonia. Então quando pensamos nas pessoas que estão a nossa volta, comungando conosco os prazeres e desprazeres da vida, precisamos ter a consciência de que fomos nós que as atraímos e as mantemos por perto, afetando-as e sendo afetados por elas.

Dizem que essa atração energética, vibratória, inicia-se antes de nascermos e se mantém mesmo após nossa morte. Somos os únicos responsáveis por ela!

Quanto mais nos fechamos em nós mesmos, querendo nos proteger de tudo e todos, mais atraímos situações e pessoas que não só estejam, igualmente, se protegendo, mas utilizando meios para nos desestabilizar, e isso não é culpa delas, é nossa, fizemos isso acontecer.

Quando nos permitimos levantar a cabeça, sentir o ar entrando em nossos pulmões e o vento em nossos rostos, percebemos que há mais do que nós no universo. Isso assusta! Sim, muito.

Ao mudarmos nosso padrão vibratório e começarmos a nos abrir ao mundo e ao que ele pode nos oferecer perceberemos que sim vamos nos deparar com situações que não concordamos, com pessoas que não pensam como nós, com atos e atitudes nossas e do outro que afetarão tudo ao nosso redor, isso é fato, não pode ser mudado, mas aprenderemos a absorver apenas o que pode ser bom para nossa evolução e com isso aprendemos a tocar o mundo do outro de forma a auxiliá-lo também a evoluir.

Assim como somos responsáveis pelo que atraímos a nós, somos responsáveis pelo que emanamos de nós, como uma mão enorme e invisível que sai de mim ao encontro do outro e volta a tocar minhas costas como resposta.

Nascemos sozinhos e morremos sozinhos, disseram. Por isso o outro não me importa, importa minha vida e o que eu faço com ela. Não discordo dessa afirmação, mas acredito que ela signifique muito mais do que diz, a forma como eu vivo minha vida afeta não só a mim, mas todos que comigo convivem, e minha vida é um reflexo desse meio, então me importar como vivo minha vida significa sim me importar como minha vida vai afetar a vida do outro, próximo ou distante de mim.

Um ciclo que não finda e cuja cura não sei se o ser humano é capaz de encontrar, para isso seria necessário sair de si, do seu mundo, do seu umbigo, ver o outro, sentir sua dor, juntar cada grão de mostarda que puder, mesmo que sejam dois, e ver que dentro desses minúsculos objetos existem universos infinitos e que o maior ópio que se pode ter é a fé de que juntos poderemos semear esses pequenos grãos e faze-los, florescer, crescer e se tornar uma das maiores arvores já existentes, com ramos tão grandes que as aves do céu poderão abrigar-se à sua sombra e que toda a dor que ali existiu não encontra mais lugar para ficar.

Vê-lo, senti-lo, amá-lo como a mim mesmo. Essa é a maior lição que o mundo cristão deveria aprender, se não a única, pois dela todo o resto se resolve por si só.

Nossa necessidade de fazer parte do todo, reflete a mesma necessidade do outro e apenas no momento em que formos capazes de entender isso compreenderemos tudo que atraímos a nós mesmos.

Empatia é o que resume todo o contexto dessas digressões, tocar o outro, fazê-lo enxergar o quanto é importante nesse mundo e que não há culpados, nem necessidade de se culpar por ser quem é.

Empatia é tudo que todas essas páginas quiseram dizer do início ao fim, somos um num todo e cada um compõe o outro, somente percebendo isso será possível compreender nosso lugar nesse mundo de Deus.