PERDEMOS E SOMOS PERDIDOS

 

A vida é mesmo uma passagem; andamos por este planeta, fazemos nossas tarefas corriqueiras achando que elas, de alguma forma, darão alguma permanência à nossa existência. Porque é o que sabemos fazer: o que tem que ser feito. Quando estamos tristes, as contas continuam chegando, a casa continua precisando ser arrumada, o nosso trabalho continua precisando ser feito. Nada espera pela gente.

 

Em Marrocos, na Síria, no sul do Brasil, na guerra entre Rússia e Ucrânia e em tantas outras guerras que acontecem nesse exato momento em que eu escrevo, vidas foram, são e serão levadas. Milhares de pessoas ficaram e ficarão órfãs de seus entes queridos, animais, casas, cidades. Ficarão órfãs de si mesmas. Mas terão sido "escolhidas" para sobreviver. Pelo menos, por enquanto.

 

Até que um dia... 

 

Perdemos e somos perdidos, e embora algumas pessoas acreditem que sabem os motivos por trás de tudo isso, eu muitas vezes penso que é apenas uma maneira que elas encontraram de continuarem se sentindo motivadas, de acharem algum sentido. Eu confesso que já não sei se existe mesmo um sentido. Muitos dizem que o objetivo é aprender. 

 

Aprender o que? E para quê? E quem foi que disse que não seria mais agradável ser uma planta, um ser inconsciente que não aprende nada, apenas vive sua curta vidinha sem se preocupar com nada? Acho que nós, seres humanos, nos achamos superiores a todas as outras criaturas, e de repente, não é bem assim. Talvez sejamos tão importantes quanto uma laranjeira, uma joaninha, um elefante, um peixe ou uma formiga. Achamos que somos seres que evoluem, e que alcançaremos a eternidade, que nossas almas superiores são imortais e queridinhas de um Deus que escolhe seus favoritos para viverem em um paraíso que é uma espécie de prêmio por bom comportamento.

 

A vida é boa e ruim, e acho que não sustenta muitas perguntas; principalmente, porque ninguém - nenhum de nós - tem as respostas. Prefiro me jogar nesse abismo sem fundo e deixar que ela me leve aonde quer que seja, sem grandes pretensões, aproveitando cada pequena alegria, chorando cada perda, vivendo cada dor e cada dia, apenas fazendo aquilo que eu tenho que fazer, o que está na minha frente, sem me preocupar em descobrir "missões" ou grandes "tarefas". Porque, se os que acham que sabem estiverem mesmo certos, isso, na verdade, não modificaria nossas vidas em absolutamente nada. E se eles estiverem errados, pelos menos eu terei sido feliz nesse entremeio.

 

Minha missão é acordar, fazer o café da manhã, limpar a casa, cuidar do meu marido, de mim e do meu cachorrinho, chorar meus mortos, sorrir as flores do meu jardim, regar as plantas, dar minhas aulas, ganhar meu dinheiro, me divertir, assistir a um filme, ler um bom livro, ir ao mercado, lavar e passar a roupa, varrer meu quintal, tirar as folhas secas do jardim, aparar os arbustos, preparar o jantar, trocar a roupa de cama, ir dormir.

 

Tudo o mais é mera especulação. Mas dou a tudo o benefício da dúvida.

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 13/09/2023
Reeditado em 13/09/2023
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