Tia Mel - BVIW
Nesta crônica, a temática redes da vida aproveitou-se da análise Junguiana sobre o envelhecimento e morte para o ponta pé inicial, sem entrar de fato, na perspectiva do autor, mas para discorrer um fato familiar. São tantas etapas que um indivíduo tem que atravessar, e o fim da maturidade humana e o encerramento do ciclo da vida deixa-me impotente. Digo isto, pois a travessia solitária que cada um tem que passar, muitas vezes, é dolorosa. Parece até que o idoso é uma peça em desuso, obsoleta. Como se não bastasse o desgaste natural e as patologias, o abandono e o preconceito aparecem para reforçar a condição da morte social. Uma morte mais violenta que o massacre da serra elétrica, contudo, esse é um título de um filme sangrento. Quero contar mais um epílogo do filme de minha vida. Meu pai, meus sogros e minha tinha tia mais nova, Mercia, estão com um carangueijo no corpo ou é uma lula-de-humboldt. Soube na sexta-feira, que minha tia Mel está nadando contra a maré e sem colete salva-vidas. Diante de tudo isso, não sei choro, se oro , se xingo, se saio correndo sem destino. Ela fez parte minha infância, e contribuiu muito para o desenvolvimento do meu lado lúdico. Foram tantas aventuras. Ela brincava de casinha, construía passagem secreta no meio do mato, fazia asas de isopor para a gente voar de cima de um pé de goiaba. A alegria era a filosofia da vida dela. Mesmo moribunda, inventou para a gente que estava viajando, que estava curtindo na ilha, depois de 13 dias de silêncio. Mas na verdade, está internada num hospital.