Tô Variando
SEMPRE que alguém envelhece e começa a esquecer as coisas, as pessoas no nosso sertão dizem: - Fulano tá variando! Não é por maldade, é sempre com carinho e ternura que dizem isso.
Pessoalmente acho que adentrei nessa fase. Sim, porque estou me esquecendo de muita coisa, a memória está farrapando, principalmente no que tange ao atual; a memória do passado, graças a Deus, está firme e forte, viva e bulindo.
Sei que o esquecimento é algo natural, faz parte do show da vida, mas assim mesmo fico com medo do motor ratear totalmente. Quem não sente esse medo?
Mas vou levando, exercitando a mente, sem levar a sério o poder, o mundo, os poderosos, enfim, vou vivendo devagar, devagarinho como diz Martinho num samba, também deixando a vida me levar como cantou Zeca Pagodinho.
Mas também gosto de divagar, de fantasiar, de sonhar. Fico no meu cantinho sonhando que estou viajando num tapete mágico e que ás vezes sou um beduíno no deserto se refrescando num oásis, um jogador de futebol fazendo um gol de placa, um poeta compondo poemas arretados, um cantor (só vai rindo) cantando músicas arretadas é um dom Juan conquistando capitus e gabrielas. Mas principalmente sonho voltando a ser aquele menino que quando chovia no sertão ficava extasiado com o cheiro de terra molhada. William Porto. Inté.