O jogo
O grande problema da humanidade é querer manipular o pensamento alheio para que este aja, faça, fale aquilo que se quer.
Para isso, recorre-se a inúmeras chantagens emocionais como forma de controle, seja por meio da culpa, obrigação ou medo, tudo com único objetivo, conseguir que outra pessoa aja de acordo com seus interesses.
Tais chantagens consistem em criar um sentimento de culpa na suposta vítima, fazendo-a acreditar ser uma má pessoa caso não obedeça.
Frases como:
“Se você faz isso, é porque já não gosta de mim”;
“Depois de tudo o que fiz por você, é assim que você me paga?”;
“Se você me deixar, vou adoecer e não poderei suportar”;
“Você me desapontou, pensei que você era uma boa pessoa”;
“Preciso de segurança e você não é capaz de me dar isso.”
Qualquer uma dessas frases tem o único objetivo de fazer com que o outro sinta-se mal e culpado.
Dessa maneira a suposta vítima poderia ser manipulada e consentiria em satisfazer o outro para não ficar “mal com os outros ou consigo mesma.”
Tal estratégia costuma ser utilizada de maneira inconsciente, por isso fica mais difícil detectar a manipulação.
Frases como:
“Você sabe o que está fazendo?”;
“A decisão é sua”;
“Se me amasse não faria isso”;
“Eu só queria que dissesse que gosta de mim e que estaria sempre comigo, desculpa.”
São exemplos de como mensagens aparentemente inofensivas podem ter uma carga de intenção para colocar medo na outra pessoa caso ela não ceda aos desejos do chantagista.
Diálogos desse tipo são estressantes porque mudam continuamente o assunto da conversa, vão mudando de estratégia e tentam confundir a suposta vítima até encontrarem o ponto fraco, no qual sentem que podem manipular.
Bem, sinto decepcionar os adeptos dessa estratégia emocional, ela só funciona quando se tem o total controle da situação, quando conhece profundamente a suposta vítima.
Desse modo, um dos grandes problemas colocados à frente do chantagista é descobrir quem de fato são os seus destinatários.
Essa fala não é nova, já fora abordada por Aristóteles, Cícero e Quintiliano, os quais demonstraram que o conhecimento daqueles a quem dirige a argumentação é uma condição prévia para o desenvolvimento de uma argumentação eficaz, o que fora muito bem descrito por Chaim Perelman em seus estudos sobre retórica e persuasão.
Se o chantagista não detém o total controle da situação onde está envolvido, não conhece bem seu interlocutor, poderá ser surpreendido pelo que não quer. Irá ouvir o que não esperava, se ver envolto a situações que fugirão a seu controle.
Assim, caso não seja portador do citado acima, creio que não valha a pena arriscar sua carreira, seu relacionamento, seja qual for, ou algo que realmente lhe importe, apenas para se satisfazer com palavras bonitas, atos e atitudes românticas, declarações de amor ou de segurança.
Até mesmo porque na menor desconfiança de que está ocorrendo algum tipo de manipulação, a suposta vítima se fechará e o objetivo do manipulador não será alcançado.
Nesses casos em que paira a dúvida do controle da situação, a melhor estratégia é a sinceridade, a clareza de raciocínio, objetividade, uma vez que desta forma não há espaço para duplas interpretações e não correrá o risco de perder algo ou alguém de quem sentirá falta.
A chantagem emocional, a manipulação ou o jogo de emoções pode até funcionar com alguns por um tempo, mas não há segurança de que funcionará com todos o tempo todo.
Faça sua escolha!