Chiste
Já ouviram alguém soltar uma critica indiscreta, um julgamento sem fundamento e logo dizer: Não liga é só um chiste!?
Pois então, quer me tirar do sério é fazer isso comigo ou com quem é importante para mim.
Os chistes tendenciosos e até mesmo os inocentes são estudados pela psicanálise desde a década de 1900, tendo sido objeto de estudo por Freud, dada a sua importância no subconsciente humano e sua gravidade ao ser proferido.
Um chiste tendencioso, ou piada sem graça, são na bem da verdade técnicas utilizadas para se furtar à responsabilidade do que é dito.
Freud dizia que no chiste a pessoa pode condensar duas palavras ou expressões para formar um equivoco argumentativo; ou deslocar o sentido de uma expressão no discurso; ou dar duplo sentido a uma expressão ou palavra que possuem mais de um sentido; ou usar das palavras para gerar um novo sentido; ou trocar deliberadamente o sentido de uma expressão; ou ainda afirmar algo e logo em seguida a negar.
As piadas, principalmente as tendenciosas, serviriam como uma forma de liberar determinados pensamentos inibidos. Isto é, pensamentos que foram objeto de recalque, satisfazendo seus desejos inconscientes.
Para Freud, as piadas ou chistes tendenciosos seriam uma forma de nos esquivarmos de nossas inibições para expressar nossas pulsões ou nossos conteúdos mentais inconscientes. Nesse sentido, essas técnicas são utilizadas para que expressemos tudo aquilo que não poderia se tornar consciente por outros meios.
Usa-se o humor como estratégia para o recalque.
Como dito anteriormente, ao contar uma piada, principalmente se ela for tendenciosa, se expressa pensamentos reprimidos. Onde, o recalcado tem a liberdade para se expressar sobre assuntos que estavam reprimidos até então.
Interessante esse estudo, como dizem: “Toda brincadeira tem um fundo de verdade.”
Mas não é através da brincadeira que se pode humilhar, rir, fazer sofrer o outro.
Aquele parente, “amigo”, vizinha, colega de trabalho, humorista que utiliza dessas técnicas para soltar veneno e liberar seu recalque no outro não merece respeito e deve ser respondido à altura, seja igualmente em forma de chiste ou de forma direta e enérgica se assim se fizer necessário.
De chiste em chiste as pessoas vão despejando e disseminando ódio, preconceito, e tudo de ruim que sua alma guarda pelo simples fato de tentar fazer rir, rir de que? Não, melhor, rir de quem?
Nesses momentos não se ri da piada em si, mas do que ela traz como conceito, se ri da mãe, do irmão, do filho, do gay, do gordo, do negro, do feio, do baixo demais, do alto demais, do pobre, do diferente, de quem quer que seja a que se refere a dita piada.
De chiste em chiste o mundo vai mergulhando no completo caos e quem sai de errado na história é quem reage a isso, o que responde de forma grosseira, o que sai de perto, o que parte para agressão.
As pessoas estão tão acostumadas a usar-se desses meios para dizer o que seu mais profundo sentimento grita, coisas que não poderia fazer normalmente, que se assustam ao receber uma reação enérgica como resposta.
Foi só uma piada não precisava de tanto. Uma simples piada, é capaz de matar, mata-se a auto estima, mata-se o senso de pertencimento, mata-se a vontade de viver, um chiste tendencioso é uma arma poderosíssima e normalmente quem a utiliza não tem noção da destruição que causa e sempre vai se esquivar quando a morte bater na sua porta lhe imputando a responsabilidade.
O seu, não era isso que eu queria que acontecesse, não devolve vidas perdidas ou mentes destruídas, sua justificativa de simples brincadeira não te tira o peso de que era exatamente isso que pensava e queria dizer.
Não me venha dizer que não tem nada com isso, seu chiste é o reflexo de sua alma, a verdadeira expressão do que sente e pensa, então assuma as consequências do que diz e do que quis dizer.
Se não o fizer encontrará quem o faça e se eu estiver no seu caminho pode ter certeza que seu chiste terá uma resposta a altura, não importa quem seja, não importa quão importante se acha, se quer respeito aprenda a respeitar, se quer consideração aprenda a considerar o outro como um reflexo de si mesmo.