Perdão
Uma digressão aqui escrita colocou o indivíduo como culpado por tudo e por qualquer coisa, mesmo que essa culpa não seja dele.
A culpa é um sentimento que nasce com o ser humano e morrerá com ele, isso é fato!
O que o ser humano precisa ainda aprender é o perdão. Muitas culpas que levamos são advindas da falta de perdão!
Por nos sentirmos culpados por tanta coisa, acabamos por culpar os outros da mesma maneira. Impingimos a culpa por expectativas pessoais frustradas, por falta de reconhecimento que só a nós importa.
Por lermos os outros pela nossa paleta de cores. Quanto mais culpa sentimos, mais culpa impingimos aos outros.
Uma falha mínima transforma-se em algo sobrenatural, ganha uma proporção que nem nós entendemos.
Vivemos com tanto medo de errar que não toleramos o menor dos erros.
Não aceitamos as pessoas como são, pois queremos que sejam à nossa maneira.
Culpamo-las e nos culpamos por não atingirmos tal objetivo.
Muitos falam de perdão como sendo um sentimento supremo, usado para questões importantes.
Mas o perdão pode ser usado do mais ínfimo ao mais grandioso sentido, perdoar-se e perdoar o outro é o maior dos ensinamentos que o ser humano pode levar para outras vidas.
O perdão aqui descrito é o perdão real, aquele em que não há volta ao passado para reviver ou relembrar situações.
O perdão pessoal por não ser quem os outros gostariam que fosse, por não cultivar os mesmos pensamentos, visões e atitudes, por ser diferente. O perdão ao outro por este também não ser como gostaria que fosse, por ter opinião própria, por ser diferente de você.
O perdão a si e ao outro por serem seres humanos, falhos e fracos. O perdão genuíno instruído de uma nova visão de mundo, do seu mundo, instruído pela aceitação do outro e de si mesmo.
Somos feitos à semelhança de Deus, Pai todo poderoso, mas Deus foi tão supremo que fez cada um diferente: a consciência, a capacidade de racionalizar, o livre arbítrio.
Até em si nada é igual: os dedos das mãos, o formato das orelhas, o tamanho dos pés. Por essa razão, cada pessoa se torna única no universo e essa unicidade “hoje” é o grande martírio da humanidade.
Por vivermos em sociedade, acreditamos que devemos seguir como ovelhas os mesmos conceitos e preceitos de vida. Bem, não é assim que acontece.
Ao nos envolvermos emocionalmente, seja amorosa ou afetivamente, acabamos por impor nossos conceitos, dogmas, crenças de vida à pessoa que está ao lado e do lado, imposição essa que pode ser insuportável para o outro e para si, pois deixa-se de ser quem é para se tornar o que o outro gostaria que fosse.
Uma hora ou outra isso desanda. Antes que desande, é preciso perdoar e se perdoar, não permitir que o copo encha a ponto de transbordar por uma pequena gota.
Somente o perdão de coração é capaz de nos livrar do peso da culpa, seja dos nossos ombros ou dos ombros do outro.
Por incrível que pareça, as pessoas que mais sofrem com nossas imposições são justamente as mais importantes de nossas vidas.
Nos importamos tanto com essas pessoas e queremos o melhor para elas, mas nos esquecemos que nem sempre o desejo do outro é o que julgamos ser o melhor.
Não entendemos, nos decepcionamos e nos frustramos quando esse ser abençoado (para não dizer outra coisa) não segue nossa cartilha. Frustração, esse sentimento que acaba por nos afastar e afasta quem mais amamos!
O outro também pode não entender o mal feito a si e ao mundo, por simplesmente acreditar que sua verdade é soberana.
Então, é necessário perdoá-lo e não tentar mudá-lo, assim como é necessário se perdoar por não se encaixar nesta verdade soberana que lhe foi imposta por tantos e tantos anos.
É preciso entender que tal verdade só é soberana para ele e pode não fazer sentido para você. Ninguém vai deixar de ser bom por isso.
Quando começarmos a nos perdoar pelas culpas que carregamos, entenderemos quanta culpa impingimos aos outros por simplesmente não serem nossos espelhos.
Lembre-se: até mesmo Narciso morreu afogado por tentar buscar seu reflexo no lago!
Será que seremos, um dia, capazes de nos perdoar e perdoar a quem amamos por simplesmente serem e sermos quem somos?