O vestido
Ela não conseguia se desfazer daquela roupa
E nem era porque era bonita ou cara, ou as duas coisas
Era uma roupa surrada, um vestido já velho
Desbotado com algumas manchas amarronzadas
Não lhe caia muito bem, pelo contrário, evidenciava algumas partes que não eram as mais belas de seu corpo
Mesmo assim não conseguia se desfazer dele
E não entendia por que não conseguia, ficava intrigada.
Talvez não conseguisse da mesma forma como também não conseguisse perder os quilos extras que ganhara com o passar dos anos desde que se casara
Mas voltando ao vestido
Ele já não era o vestido novo e desejado como fora quando o viu na loja pela primeira vez
Deixara há tempos de ser usado em ocasiões em que precisasse sair de casa
Tornara-se um vestido doméstico, se é que existe essa classificação, um vestido para ser usado em casa quando ninguém mais estivessem, exceto as pessoas que lá residissem.
Poderia comprar outro vestido, ora, poderia
Não era por falta de outros vestidos que ela não se desfizesse dele, ela tinha muitos outros, melhores e mais bonitos que aquele
Mas de alguma forma ela não conseguia
Talvez aquela mulher não conseguisse se desfazer daquele vestido porque se sentisse um pouco como ele
Com suas marcas do tempo
Com suas histórias vividas
Mas com o tempo o vestido passou a ser usado com menos frequência, até que um dia ela não mais o vestiu
Se esquecera do vestido
E ele passou a morar no fundo do armário junto de tantas outras peças.
Deixado de lado, assim como ela mesma, um dia, havia se deixado.