Sofrimento e Sorte
Algumas vezes fiz narrativas parecidas, o que me da a impressão que sou repetitivo. Sendo assim, vai mais uma.
Ontem, numa daquelas conversas que acontecem na casa de minha mãe, já que a família é grande e não é raro encontros entre irmãos, cunhados, sobrinhos, primos, etc., os assuntos foram saindo e como sempre foram desaguar nas recordações, coisa inevitável, justificado no fato de minha mãe estar beirando os noventa e um anos e este menino aqui, que é o terceiro filho, já ronda os setenta.
Entre as lembranças surgidas, veio a da sorte que teve meu tio, irmão mais velho do meu pai, quando foi convocado para ir lutar na segunda guerra, na Itália. A convocação se deu em mil novecentos e quarenta e cinco. Ele deixou a Divisinha, bairro rural onde ficava a fazenda do meu avô, onde também residiam seus filhos e suas famílias, foi para Pouso Alegre em Minas Gerais, local de treinamento para combate. A grande sorte do meu tio, foi que nesse período de treinamento em Pouso Alegre, veio a dispensa em razão do final da guerra. Alívio enorme para o mundo, e em especial para aqueles que estavam em situação semelhante a do meu tio.
No andar desse conversa, comentei como teria sido para toda a família a notícia da convocação e o embarque desse nosso tio, visto que, inevitavelmente, para todos, ir para a guerra era a quase certeza de morte. Minha irmã mais velha comentou, que a Divisinha deve ter ficado mergulhada em lágrimas, coisa que não duvido mesmo, pois emocional como eram eles, e como somos nós, o sofrimento com toda certeza foi enorme e de todos.
Olha que esses fatos lembrados, com tanto tempo passado, cujos os presentes, exceto minha mãe, ninguém viveu, conseguiu emocionar a todos nós.
Só para não me esquecer, depois falo do batizado de minha mãe, que ela nos narrou nesta mesma tarde. Uma viagem a pé, de Campestre a Aparecida.