O último segredo de Fátima
Era costume dos nubentes descendentes de eslavos revelarem, duas semanas antes do matrimônio, seus segredo. Com Fátima e Avelino não foi diferente.
Os segredos dele não eram preocupantes, já que a noiva simplesmente ria a cada revelação. Por outro lado, ela bem que o avisou que seria bom ele pegar sua cadernetinha e anotar para, quem sabe um dia não haver questionamentos. “Eu bem que lhe avisei... você é que não está lembrando...”.
A princípio os segredos nem eram segredos, eram manias, costumes. Ela não gostava de tampa de vaso aberta e nem roupas intimas jogadas no banheiro (leia-se cuecas); odiava doce de figo, sardinha, alho e cortar cebola. Não pegava no sono com a luz apagada e não dividiria em hipótese alguma sua toalha de banho e escova de dentes. Não sabia fazer pudim e não se depilava na Quaresma. Bicho de estimação (cachorro, gato, tartaruga, canário)? - Na minha casa nem pensar!
Mas tinha o último. Esse seria revelado dois dias antes do matrimônio dando tempo para uma reflexão aprofundada e, se fosse o caso, a desistência. - “Eu bem que lhe avisei...!”.
Fátima provava pela enésima vez seu vestido de noiva na velha costureira e deixou escapar o segredo. Três horas depois a mãe do noivo tomou conhecimento e chamou o filho para uma conversa reservada.
- Não mãe... ainda não... Mas tem hoje, amanhã...! Não se preocupe! Não deve ser tão importante. Coisa de mulher dengosa. O tempo conserta.
- Lhe dou um conselho, filho: se ela não “lembrar’, finja que esqueceu. Tem segredo que é melhor ir para o túmulo.
E refletindo com seus botões a futura sogra murmurou: - Se é constrangedor para os homens revelar que sofrem de hemorroidas, imagine para nós, mulheres.