O Grito do Silêncio
O ser humano tende a buscar explicações para tudo, não está acostumado com incertezas, não consegue conviver com o que não pode controlar.
Assim, quando detém, mesmo que uma pequena parte de informações, busca preencher o vazio com sua própria explicação apoiada em como “deveria” ser o mundo.
O silêncio é visto como dúbio, inaceitável para os padrões ordinários da sociedade, para punir tal evento utiliza-se frases como: “Se tal pessoa se cala é porque esconde alguma coisa ruim”, ou “Quem cala consente”.
No entanto, de forma genérica, tais frases são utilizadas equivocadamente, um erro comum praticado com a finalidade de dar razão a uma atitude ou conceito.
Há o pensamento generalizado de que não somos leitores de mentes, nem sequer somos psicólogos para interpretar o silêncio.
Precisamos nos apoiar em dados que possam confirmar as situações vividas.
Mas, o que se esconde por trás do silêncio? Confusões, verdades, jogos de palavras, ilusões, sonhos, mentiras, segredos, inquietações, medos, desculpas, imaginação ou talvez… nada importante.
A frase “administrar o silêncio é mais difícil do que administrar a palavra” resume bem isso.
O externar de nossa voz interior de forma a dar uma explicação a respeito do que acontece em nosso entorno, aquilo que interpretamos dos atos dos outros e, inclusive, de como somos, é um ato de socialização.
O oposto disso, ou seja, a internalização dessa mesma voz, por vezes, é interpretada como sendo insegurança, falta de caráter, indecisão. Por inúmeras vezes, a não exposição dessa voz interior se dá com o intuito simples de manter para si seus próprios pensamentos, até porque não somos obrigados a nada senão em virtude de lei.
Em outros casos, o silêncio evita que a voz interior afete a forma como a sociedade vê certas situações ou pela consciência de que essa voz pode causar mais discórdia.
Às vezes, simplesmente não é o momento certo de falar.
O pensamento pode ser ouvido e não ser bem interpretado.
Por outro lado, o silêncio pode esconder coisas irrelevantes, tão somente imaginação, algo que só diz respeito a quem detém tais pensamentos.
Sempre pintamos os outros por nossa paleta de cores, interpretamos atitudes, palavras e silêncios por meio de nossa própria realidade, que não é igual a dos outros. Por essa razão, buscamos sempre explicação para esses eventos, mas essa busca se baseia por nossos princípios preestabelecidos.
O correto é partir do princípio de que sempre deve ser respeitado o direito do outro de não querer comunicar alguns de seus pensamentos.
Temos direito à intimidade e à privacidade.
Outra frase interessante: “As palavras têm uma capacidade incrível, mas o silêncio também.”
Algumas pessoas não conseguem se expressar de forma clara, utilizam meios alternativos para demonstrar seus sentimentos, angustias, medos, desejos.
A essas pessoas não é dado o direito de ser como são, a sociedade não as entende, não entende que por trás do silêncio há um turbilhão de pensamentos, questionamentos que, se colocados ao público, podem não ser mais controlados.
Outros possuem um bloqueio de expressão advindo de experiências passadas, medo de machucar o outro, de ser mal interpretado, até mesmo medo de se tornar alvo de seus próprios argumentos, ser visto como fraco, débil.
A intensidade vivida no interior dessas pessoas é tamanha que se externada pode representar o completo caos.
Lidar com essa situação é bem complicado, requer, de quem convive com o silêncio, paciência, maturidade, empatia, o olhar em outra perspectiva e, de quem sofre com isso, a consciência de que o silêncio pode ser pior interpretado que as palavras e que, por isso, deve-se tentar expor o que se sente - caso não seja possível pela fala, que seja em outra forma, pelos detalhes: olhares, expressões, carinho, dedicação.
O sentir com o coração é a melhor forma de se entender o silêncio.
Nem tudo pode e precisa ser expressado por palavras, muitas vezes não existem palavras capazes de traduzir o que o silêncio diz. Somente quem compreende o poder do silêncio pode entender o poder das palavras.