A ARTE DE COMENTAR NO RECANTO DAS LETRAS

 

Aqui no Recanto das Letras é a coisa mais normal deste mundo você ler um texto e fazer um comentário sobre o mesmo. Tal iniciativa pode ter algumas motivações a se levar em conta, mas no geral trata-se de um gesto de cortesia pela visita do autor à sua escrivaninha. Você lê o meu texto e eu leio o teu. Simples assim.

No entanto, cabe aí umas poucas questões: isso é bom? Vale a pena? Penso de modo bem positivo, sabe? No Recanto, somos todos escritores amadores. Estamos nivelados num mesmo patamar de reconhecimento literário. Afinal, que eu saiba, nenhum escritor profissional do calibre de um André Vianco, Thalita Rebouças ou Eduardo Spohr, se dedica a escrever por aqui e, se houver, são joias raríssimas.

Há quem pense ao contrário. Tem gente que gostaria de ser lido pela qualidade e interesse que as suas obras possam despertar nos outros sem contrapartidas. No entanto, conheço pouca gente que tem um público fiel de leitores independente de compensações.

As trocas são sempre bem-vindas, sim, porque não há como negar que os comentários nos oferecem incentivos para escrever mais. As observações, os feedbacks, mesmo as críticas, quando expressas de modo educado e honesto, trazem a satisfação de ver as nossas opiniões e criações literárias chegarem à percepção de outras pessoas. Isso é muito bom! Melhor compartilhar leituras uns com os outros do que escrever para deixar no limbo das nuvens.

No entanto é preciso registrar, sob a luz deste entendimento, algumas manobras evasivas irritantes aqui no Recanto das Letras: são os caça leitores que usam, através dos comentários, estratégias pouco estimulantes de retorno às nossas publicações. Dentro deste conjunto, podemos identificar três tipologias clássicas nada producentes:

O comentarista genérico: é aquele que comenta generalidades sem ter lido uma única linha sequer do teu escrito como, por exemplo, “gostei muito do seu texto, você é um ótimo escritor, parabéns”. Estes usam de observações vagas, podendo ser atribuídas a qualquer texto, desde um tratado filosófico sobre a flexibilidade da cola da lagartixa até histórias infantis. De longe, este é tipo mais comum.

O comentarista chupim: é aquele que, diante de um texto de médio para grande, lê apenas dois ou três comentários dos outros a fim de recauchutar algumas informações pontuais, ou seja, ele altera umas poucas palavras para expressar uma opinião original e comprovadora de realmente ter lido a obra mencionada. Este tipo é o mais difícil de identificar.

O comentarista spam-preguiçoso: este escreve duas ou três frases genéricas, copia e cola numa dezena de publicações e gêneros diferentes para ganhar tempo e granjear o maior número de leitores possíveis. Dos três casos este, embora seja o mais raro, é o pior de todos, pois falta-lhe até criatividade para escrever comentários genéricos. Ainda bem que o Recanto tem um dispositivo para refrear os mais compulsivos. 

O mais surpreendente é que, muitos deles, acham que a estratégia funciona! Claro, funciona por um tempo com os novatos, porém em poucos dias a manobra não se sustenta.

Bem, a primeira coisa a se pensar, óbvio, é que ninguém é obrigado a comentar textos se não quiser. Concordo. Isso requer tempo, contudo reitero: comentários são um combustível de incentivo à maioria dos escritores amadores de espaços literários como o Recanto, Wattpad, Inkspired, etc. Eles devem ser bem filtrados quando dirigidos aos iniciantes.

Escrever comentários não é apenas tecer elogios o tempo todo, claro que não, mas demonstrar que você dedicou atenção à leitura de modo a fazer ao texto um adendo, uma opinião sobre o mesmo assunto, uma dica, escrever algo específico e interessante que te causou alguma sensação boa.

E as críticas?

A maioria dos escritores, amadores ou profissionais, tem um ego enorme. Ninguém gosta de receber críticas, nem eu gosto. Ainda assim, principalmente em desafios ou concursos literários, seja aqui no Recanto ou não, as críticas realmente te ajudam a crescer. É preciso, evidentemente, ter muito jeito para dizer algo a ser melhorado num conto, ou chamar atenção para algum vício de linguagem escrita.

Muito bem. Então, quem realmente ler este texto e chegar até aqui, fique à vontade para fazer comentários... ou não! Você não tem obrigação nenhuma! Mas se for para “dizer” coisas genéricas... por favor, não perca o seu tempo.

 

 

 

Affonso Luiz Pereira
Enviado por Affonso Luiz Pereira em 10/09/2023
Código do texto: T7882000
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