O PODER DA MARCA

‘’Ideologia eu quero uma para viver”

(Cazuza & Frejat, 1987)

Este caso relatado a seguir foi passado em uma farmácia de manipulação e diz respeito a uma “marca” que começa a monopolizar o mercado de produtos naturais e orgânicos. Uma consumidora compra um óleo de melaleuca, apropriado para problemas de pele. Ela reparou no rótulo do produto e fez uma pergunta à vendedora:” por que este rótulo não assinala que é orgânico ou natural e frisa só o ‘vegano’”? A gerente atenta à conversa interferiu irritada: “os produtos ‘veganos’ são certificados como livres de ingredientes animais”. A compradora disse:” eu falo da “marca” e não da definição”. A gerente repete a mesma cantilena e a cliente vendo que não teria resposta, falou: “não quero discutir, pois não estamos focando no fato e sim na opinião.” A gerente contestou:” eu estou falando do fato, você é que dá opinião, e veja bem, não estou lhe chamando de burra.” Por traz deste diálogo, não resta dúvida que se tocou em algum aspecto oculto para dar motivo a tanto descontrole emocional. Pode ter sido a ausência do Selo no rótulo do produto e, bem provável, que a farmácia não estava credenciada para vender a “marca”, ou podemos supor que foi por fanatismo vegano?

A partir daí surgiu a ideia de entender a influência da ideologia nos grupos que defendem o meio ambiente. O Veganismo propõe um estilo de vida com base nos valores de defesa dos direitos dos animais e de uma vida mais sustentável. A onda ecológica já era prevista desde a década de 1990, quando um sociólogo espanhol fez a previsão que iria acontecer, no futuro,” um esverdeamento do self”.

Há uma diferença significativa entre Vegetarianos que excluem da alimentação apenas a carne animal, enquanto os Veganos não ingerem nenhum tipo de carne, ovos, mel, laticínios e gelatinas. É uma mudança que inclui produtos como roupas, cosméticos, medicamentos, higiene e tudo que possa ser usado pelo adepto.

Em pesquisa realizada pela Sky Quest, o mercado global de alimentos veganos deve ultrapassar US$34 bilhões até 2028, por conta da conscientização de consumidores sobre o sofrimento dos animais na pecuária. O termo Vegan foi criado em 1944 por um marceneiro britânico e, no mesmo ano, surgiu na Inglaterra a Vegan Society, entidade responsável por propagar um movimento político, ético e de estilo de vida. A partir do século XXI surgiu três empresas internacionais de sucesso: a Beyond Meat, marca de carne vegetal, com sede em Los Angeles (USA), fundada em 2009. Faturou US$298 bilhões em 2019. A segunda Tattooed Chef com variadas opções de pratos “plant-based”, sediada nos USA. A terceira é de origem sueca que fabrica leite a partir da aveia como base. Tem investido em treinamento para baristas chineses e guias de viagem para pessoas negras e queer. As três empresas estão no Mercado de Capitais. É possível investir em aplicações de BDRS, ETF e corretoras internacionais. Nos Estados Unidos o US Vegan Climate é um fundo de empresas de diferentes setores que possuem o Selo Vegano.

No Brasil, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro lideram os “Veganfriendly”, com 573 alternativas para este público. (Diário do Comércio) Existe um “Selo Vegano” criado em 2013 pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e, já está presente em mais de 3050 produtos. A corrida para o mercado de produtos naturais, isentos de agrotóxicos, tem contribuído para a abertura de 138.796 novos estabelecimentos em 2021, o maior número dos últimos nove anos. A novidade por aqui é o movimento intitulado “Vegano Periférico” nos bairros populares. Em artigo assinado por Leonardo e Eduardo dos Santos, midiativistas da sigla, colocam seus objetivos: “Incentivamos a agricultura familiar e o fortalecimento de políticas públicas para o fim da fome, e da insegurança alimentar, e não para a popularização de produtos que se dizem Veganos.” (Google) Sem comentários.

O conceito de Ideologia é sujeito às controvérsias gerando confusões na tentativa de confirmar a sua importância. É próprio das ideias, opiniões, estilos de vida, ideais, doutrinas partidárias, religiosas, políticas, filosóficas, utopias que no contexto atual ganham uma infinidade de posições, que mais confundem que esclarecem. É mais fácil culpar os partidos, a corrupção, a violência, a ausência de caráter como algo inerente aos humanos, do que ter clareza dos esquemas de dominação societais, que são orientados pelo uso e abuso da Ideologia. Faz parte da superestrutura, mas sempre gira em torno das condições concretas da vida humana (a estrutura). Ela é tão poderosa que se pode destruir a sociedade com uma revolução, mas para eliminar os valores que a conservam, espera-se séculos, que nem o avanço dos costumes ou da ciência conseguem abalar.

Pode ser definida como “visões de mundo” que orientam indivíduos, grupos e classes sociais. Ter uma Ideologia não significa que sua influência possa mover o mundo, pois ela não é uma verdade incontestável, atua como viseira, que só mostra parcialmente o real. Os valores podem estar descolados da realidade, distantes do mundo criando uma” falsa consciência” das coisas que nos rodeiam. Além disso, o domínio das ideias está em mãos das elites, que não têm interesse em permitir que os dominados façam a passagem da “falsa consciência” para a consciência crítica. Tanto o Veganismo como os Partidos Verdes que se propõem criar novas alternativas de vida acabam por reproduzir a “falsa consciência” para as maiorias dominadas e exploradas reproduzindo o ciclo vicioso da “falsa consciência”. Vejamos os sites dos blogs e jornais midiáticos que analisam de forma crítica a crise europeia: “Dito sem rodeios, embora a maioria dos europeus seja de fato ambientalista( de um grau a outro) ficou claro que a ideologia extremista verde é tão “utópica verde” que sua vanguarda está preparada para destruir a sociedade humana (ou colocá-la em permanente lockdown)para salvá-la”.( Lady Bharani & Alastair Cook, in The Saker,2023)

De fato, a ideologia é necessária como dizia Cazuza, mas só quando ela está subordinada à prática social dos excluídos.

ISABELA BANDERAS

Rio de Janeiro, 09 de setembro de 2023.

ISABELA BANDERAS
Enviado por ISABELA BANDERAS em 09/09/2023
Código do texto: T7881732
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