A arte tem que emocionar!
Há muito tempo tenho a sensação de algo "entalado"na minha garganta, e não estou conseguindo digerir muito bem essa bagaça. Portanto, não tenho saída! A única coisa que me resta, que pode me trazer um pouco de paz, é adentrar-me no universo mágico das "Mil e Uma Palavras" e tirar da cabeça e botar no papel o que vem me afligindo. A literatura realmente é uma forma eficiente de psicoterapia! Ela lava as impurezas que se depositam no intelecto, lubrifica as engrenagens do pensamento e deixa a imaginação livre, leve e solta para alçar novos voos rumo ao imponderável.
Vamos lá! Vamos acabar com esse "mistério de Asa Branca"! Essa tal modalidade de arte intitulada de "abstrata", onde um círculo com um ponto no meio é considerado uma obra de arte, me deixa com um grande ponto de interrogação no meio da testa? Isso é arte? Eu sou um romântico incorrigível e um chorão contumaz! Diante da beleza da arte em suas diversas facetas, tenho que admitir que não consigo segurar a emoção, e logo as lágrimas correm pelo meu rosto marcado pelas intempéries do caminho.
Para se ter uma ideia da "magnitude dos sentimentos", da "revolução sensorial" que acontece no meu "refúgio psíquico," vou contar um episódio digno de uma boa comédia pastelão. Em um belo dia, tive uma péssima ideia! Convidei a minha digníssima, ilustríssima e duríssima namorada a me acompanhar a ir ao cinema. O filme da vez, "Ghost: Do Outro Lado da Vida,"um clássico que marcou os anos 90. Bem acomodados, na primeira fileira do cinema, com o "Kit matador" em mãos e todas as guloseimas tentadoras do mundo pra criança nenhuma botar defeito, nos preparamos para o choro inevitável à frente.
O filme começou... Nas primeiras cenas, tudo ocorria como manda o figurino. Até que o Sam Wheat, personagem principal interpretado por Patrick Swayze, é brutalmente assassinado. Esse foi o pontapé inicial do meu martírio! Tudo indicava que a merda iria feder! Em uma determinada cena, uma lágrima inadvertida escorreu pela minha face... Até aí, tudo bem, estava dentro do protocolo! De repente, uma lágrima não dava mais conta de extravasar toda a minha emoção. Como diria o rei Roberto Carlos: São tantas emoções!
Cada vez que tocava aquela "famigerada e melodiosa" canção "Unchained melody"- The Righteous Brothers, a "Cachoeira da Neblina" começava a transbordar , inundando, sem compaixão, as cadeiras do entorno. A minha querida namorada "porreta" já antevendo o "show de horrores" que estava prestes a acontecer, sem nenhuma cerimônia, tirou o time de campo, e me deixou órfão de pai e mãe. É lógico que, mesmo com o filme ainda em andamento, também tirei o time de campo. Essa foi a minha historinha em tempos de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello! Viva os caras-pintadas!
Para mim, a arte não precisa se explicar! A arte tem que emocionar! Até cego se emociona diante da beleza estonteante e transcendental do Teto da Capela Sistina de Michelangelo, e chora compulsivamente! E para arrematar, convido-lhe a fazer um teste agora! No aconchego do seu lar, no calor do seu quarto, entre quatro paredes, na sua intimidade sagrada, de preferência com as luzes apagadas e devidamente relaxado na sua cama acolhedora, escute o Adagietto da Quinta Sinfonia de Mahler. Se você não se emocionar, já nos primeiros acordes, provavelmente está faltando em seu corpo um órgão absolutamente essencial : o coração. Isso sim é arte! E ponto final!