Mas não é possível . . .

Brasil, século XIX. Lá estavam alguns dos grandes nomes do Romantismo, caminhando por uma típica floresta brasileira: Gonçalves Dias, José de Alencar, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.

- Que bela esta floresta! - disse Almeida Garrett. - Tão cheia de palmeiras, pássaros cantores e flores maravilhosas!

- Ora Garrett, é como eu sempre digo: - explicou Gonçalves dias - “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá;”.

- Exato! - concordou o Herculano - Sem dúvida, é um cenário perfeito para muitos heróis.

- Heróis? - perguntou José de Alencar.

- Sim claro. Heróis! Ora Zé, esta é a marca registrada do Romantismo. - falou Alexandre Herculano - Por exemplo, em Portugal, usamos o cavaleiro medieval como herói romântico. Por acaso, não tens aqui?

- Bem, é que . . . - balbuciou Alencar - mais ou menos, é . . . O Gonçalves explica melhor, fala pra eles, Gonçalves!

O Alencar empurrou o Gonçalves Dias, que falou:

- Bom, é algo um pouco complicado, não é mesmo, José? - Nesse momento, Gonçalves olhou zangado par o Alencar - Em Portugal, o herói é um cavaleiro medieval, qualquer um sabe disso, mas aqui, no Brasil, a terra dos sabiás, o herói é alguém sem igual, ele é...

Enquanto Gonçalves enrolava, esperando que um milagre caísse do céu, inesperadamente apareceram dois índios, que disseram juntos:

- Oi!

- Veja! Ali está! Ali! - disse Gonçalves, aliviado e contente - Estes são os heróis do Romantismo brasileiro!

- Eles? - No momento em que perguntou isso, Gonçalves olhou bem sério para o José de Alencar de novo, como se ele quisesse dizer ’Vai na minha’ - Quer dizer, . . . É claro que são eles!

- Acho que tem caroço nesse angu. - falou Herculano.

- Deixe de bobagem, homem! Eles são os heróis que carregam valores: o povo nativo do Brasil - Explicou o Gonçalves - eles são . . . São . . . qual é a sua graça, filho?

- Eu?- perguntou um dos índios.

- Sim, você!

- Me chamo Juca Pirama.

- E o que você faz?

- Sou guerreiro valente da tribo.

- Ouviram isso?

E também querendo participar da conversa, o Alencar perguntou para o outro índio:

- E como você se chama?

- Me chamo Peri - respondeu o segundo índio.

- E qual, quero dizer, como é o seu caráter?

- Guardo a honra e a bravura.

- Estão vendo isso? - perguntou José de Alencar a Garrett e Herculano - Nós também temos heróis românticos assim como vocês.

- Nós? - perguntou Peri.

- Sim.

- E olha que eu nem estava esperava isso acontecer hoje de manhã!

- Então vocês não conhecem esses dois? - perguntou Garrett, apontando para Alencar e Gonçalves.

- Não! - Responderam Juca e Peri, juntos. A partir desse momento, Alencar e Gonçalves começaram a ficar vermelhos de tanta vergonha. Daí, Alencar confessou:

- Tá bom, eu confesso: não há heróis românticos aqui no Brasil. Nós dois mentimos para impressionar vocês e não passar vergonha.

- Ah, vocês não precisavam ter feito uma coisa dessas. – consolou Herculano – O Garrett e eu não jogaríamos na cara de vocês só por não terem ainda heróis na literatura. E também, não foi nada fácil encontrar um herói romântico português: demorou muito, e nós, portugueses, tentamos e erramos muitas vezes. – Nesse momento, Herculano e Alexandre riam.

- Obrigado, Herculano. – Agradeceu Alencar.

- Tudo bem, Zé! E, além disso, não é tarde demais para o Romantismo brasileiro ter os seus heróis, não é?

- É, você tem toda a razão. Ainda há uma chance de poder fazer mais pela literatura brasileira. – falou Alencar, confiante. – Venha Gonçalves, vamos por a Mão na massa! E vocês, índios, concordam em serem heróis do Romantismo brasileiro?

- Sim! – Responderam Juca e Peri, juntos.

- Então, vamos escrev . . .

- Esperem aí! – Interrompeu Peri. –Antes de vocês começarem a escrever romances sobre nós e sobre nosso povo, precisam assinar o contrato de uso de imagem. – Peri entrega o contrato a Gonçalves, que perguntou:

- Contrato?

- Sim – Respondeu Juca – Não é só escrever sem mais nem menos. Nós estamos debaixo das leis sobre direitos autorais . Por isso, é melhor vocês falarem com a nossa agente.

- Agente? Quem é a sua agente? – Perguntou Alencar.

- Ela se chama Iracema.

- E onde ela está?

- Vocês sabem onde fica o Ceará?

Tiago Salpin
Enviado por Tiago Salpin em 08/09/2023
Reeditado em 10/09/2023
Código do texto: T7881086
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