O DIA DO PATRIOTA
Rememorado pela tradição, o rapaz tinha consciência da legitimidade de uma data para celebrar a liberdade. Liberdade essa que consistia em perceber o fim das amarras, da obediência e da sujeição total às leis de outro país.
Era um dia para enaltecer todos os demais trezentos e sessenta e quatro.
Para ele, ainda no ginásio, cantar o Hino da Independia ("já podeis da Pátria filhos, ser contente a mãe gentil") - uma mão espalmada sobre a coxa, a outra sobre o coração, demonstrando amor à Pátria, entusiasmo e uma ferrenha honra de ser patriota.
Sentou-se pensativo num dos bancos vazios da praça e passou a maquinar. O sentimento de patriotismo havia sido deturpado. O dia a ser comemorado deixava de ser um momento de honra em que lembrava aos brasileiros quando se tonaram libertos do jugo de um governante alheio aos mais diversos problemas internos.
Entretanto, ao invés de estimular o amor pela Pátria e honrar os atributos que enriquecem a Nação, a data se tornou um momento de disputa, de controvérsias de ódio - como facções disputando espaço.
O historiador José Murilo de Carvalho desenvolve, em algumas de suas obras, argumentos em que o povo assiste "bestializado" aos eventos promovidos pelos governantes, desde a Monarquia até a Proclamação da República. No entanto, passado mais de um século e ainda aturdido, o povo vê usurpado o verdadeiro sentido de ser patriota.