ENTREGANDO CARNE: O CÃO MAL HUMORADO
ENTREGANDO CARNE: O CÃO MAL HUMORADO
Um dos meus passeios prediletos era ir com meu pai ao quartel onde ele trabalhava. Saía cedo de casa com meu pai e, entrávamos no quartel e eu ficava na sala dos oficiais enquanto meu pai ia cuidar dos seus afazeres. Ali havia muitos objetos que despertavam minha curiosidade e, para mim eram novidades: campainhas manual tipo sino sinete, grampeadores, papel oficio, canetas e uma infinidade de coisas de escritório. Eu mexia em tudo. Cada vez que acionava a a campainha aparecia um soldado perguntando o motivo da chamada. Os soldados me cercavam de atenção (era filho de um tenente), e cuidavam de mim o dia todo. Na cantina o dono sempre me dava um guaraná ou Cirilinha ( refrigerante de laranja delicioso). Pegava a garrafa, furava a tampa metálica com um prego e eu “mamava” o líquido. Às vezes eu ia à piscina recém inaugurada, sob a supervisão de meu pai. Ali aprendi sozinho, a nadar. Aos poucos e com muito medo, soltava as mãos das bordas e dava uma ou duas braçadas. Em uns poucos meses consegui atravessar a piscina e não parei mais. Havia também o caminhão que entregava carne nas casas os sargentos e oficias. Os pedaços de carne eram pesados no quartel conforme a encomenda e colocados em uma espécie de grampo de arame. Após todas as carnes eram colocadas em grandes caixas, embarcadas na carroceria de um caminhão e eram entregues nas diversas casas dos compradores. Lá ia eu na carroceria do caminhão do Exército com uns três ou quatro praças. Chegado ao endereço, a viatura parava, um soldado descia, pegava a carne encomendada, batia palmas e logo vinha alguém receber o grampo de carne. Certa vez, tudo ia muito bem e, após várias entregas faltava uma última casa de um sargento para fazermos a entrega. Era uma casa de madeira, construída no meio de um grande terreno onde havia muitas laranjeiras altas. Após bater diversas vezes as palmas e não aparecer ninguém, o rapaz resolveu entrar no terreno e ir até a casa, Quando estava no meio do caminho, um cachorro enorme saiu da casa latindo e correndo para atacar o rapaz. Vendo que não teria tempo para voltar ao portão, o soldado correu para uma das laranjeiras e escalou rapidamente os três ou quatro metros do tronco liso e se agarrou nos galhos da copa. O cachorro, ao redor da árvore, latia desesperado, pulando muito para alcançar o soldado. Graças a Deus não alcançou seu intento. Logo apareceu a esposa do sargento, segurou o cão para o praça descer da árvore. O camarada demorou muito mais para chegar ao solo do que escalá-lo. E retornamos ao quartel
Paulo Miorim 07/09/2023