CYRO E MACHADO... e EU
Prof. Antônio de Oliveira
Respeitáveis escritores, jornalistas e críticos literários têm discorrido sobre a provável influência de Machado de Assis, romancista carioca, sobre Cyro dos Anjos, escritor mineiro (1906-1944). A ambos admiro eu, mas há traços distintivos entre eles, seja quanto ao temperamento seja quanto ao estilo.
Para Otto Maria Carpeaux, Cyro é escritor à maneira machadiana. Não acusa nem conclui, sobretudo não conclui. Com Gustave Flaubert, entende que ‘imbecilidade é querer concluir’. Procedente ou não, já ouvi de mais de uma pessoa que eu também seria assim... A ser verdade, sem comentários.
Iniciou seus estudos em sua terra natal, Montes Claros, aos 15 anos quando, então, teve contato com grandes escritores: Machado de Assis, Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Fialho de Almeida, Camilo Castelo Branco.
Álvaro Lins, em suas “Notas sobre Abdias”, pinça um exemplo que comprovaria a semelhança entre os dois autores em tela:
“No estado em que ontem me achava, teria sido capaz de pôr fogo a uma cidade, só para ver Gabriela. Mau... Começo a usar da linguagem hiperbólica dos namorados. Há nisso, sem dúvida, espantoso exagero. Por certo, eu não atearia fogo nem a um monte de alfafa.”
Mesmo admitindo tal ressaibo machadiano Álvaro Lins nem por isso o diminui. Louva-o, pois soube valer-se dessa influência.
Antônio Cândido, outro crítico de renome, ressalta grande diferença entre os dois. Enquanto Machado tem uma visão da vida que se poderia chamar dramática, Cyro possui, além dessa, maravilhoso sentido poético, das coisas e do ser humano. Cyro nos legou páginas antológicas. Vale ler e ler de novo.