Insone

A solidão da noite é imparcial...

Ela surge sorrateira, se prolonga a noite inteira... pela manhã, deixa seus rastros de olheira. Para onde vão todos enquanto adormecidos, guarnecidos pelo sono profundo?... não sei... só sei que em noites assim eu os invejo... e vejo tudo pelas minhas janelas... deparo com um céu estrelado e fúnebre, que me ilude com o brilho ilusório de sua companhia... de súbito, sou tomada por um frio dorsal a percorrer minha espinha e estremecer meu corpo inteiro... invade-me nova(mente) a sensação inóspita e fria da solidão dos insones. E eu nem sei dizer se minha insônia tem nome... vez ou outra ela some, dá uma trégua... mas logo retorna voraz e me vira do avesso, rolando em meu leito sem encontrar alento, sem posição... ainda que fetal, capaz de dar-me abrigo nas noites mais escuras e densas... e fico feito alma desassossegada, perambulando pelos cômodos da casa, com frio na barriga e na alma... só os seres noturnos e seus barulhos soturnos a fazer-me companhia ... aumentando meu assombro sem nexo... e quando a luz do dia invade meu quarto, deflagra meu corpo cansado, soterrado em colchas e lençóis... catada pelas pernas, adormeço quando todos estão a despertar. E é só mais um dia daqueles... exausta, sobrecarregada... arrastando relógio afora... lá fora, ninguém percebe meu caos... continuo invisível e inacessível... constato que mesmo em meio à luz do dia, tudo permanece sombrio... exatamente igual... no sóbrio do meu despertar... das minhas divagações.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 07/09/2023
Código do texto: T7879863
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