🔵 Museu da Língua Portuguesa
Foi impossível adivinhar o que poderia ter no ‘Museu da Língua Portuguesa’ além de palavras. Num museu, seja lá quem o artista for, eu não consigo disfarçar quando a obra for ruim. A coisa começa a denunciar picaretagem quando a, digamos, manifestação artística surge com uma máscara moderninha chamada de: ‘instalação’ ou ‘performance’. No entanto, a visita ao ‘Museu da Língua Portuguesa’ contrariou a falta de perspectiva. Sim, pode ter sido melhor com a turma da universidade.
Em princípio, como suspeitei, as palavras estavam lá. Como as professoras estavam presentes, circulando pelo museu, fiz uma cara de inteligente, como quem apreciava a ‘Capela Sistina’. Tive que manter a farsa para fingir que eu estava realmente interessado em decifrar palavras soltas. E as professoras continuavam circulando como se esperassem que os vocábulos revelassem algum sentido oculto. Mesmo com a falta de interesse, fiz o mesmo.
Diante da insistência das palavras em não dizerem nada além do que estava patente, desisti e encerrei aquela farsa. Pelo menos, não tinha ninguém realizando as chamadas ‘performances’ nem uma maldita ‘instalação’ (objeto fingindo que é arte) atrapalhando o caminho. Tive certeza, estavam todos fingindo interesse em um punhado de palavras para aparentar erudição.
Destrinchando o nosso idioma, a exposição permitiu alguma interatividade. Esquecendo que estava no centro de São Paulo e entretido com fotografias, objetos históricos, textos, áudios e uma boa apresentação teatral, me flagrei absorto com o que, preconceituosamente, eu achava que seria enfadonho.
Com o novo comportamento adquirido, não seria mais necessário sustentar o queixo com o polegar e a bochecha com o indicador, fazendo cara de conteúdo diante de uma obra qualquer. Como não encontrei nenhuma ‘instalação’ ou ‘performance’, continuei preservando o meu preconceito e alguma rabugice.
Apesar da distância geográfica, quando o prédio da Estação da Luz ardeu em chamas, eu assisti ao desastre com uma certa melancolia e proximidade afetiva. Hoje, sabendo que pega bem ter ido lá porque rende certo status, fingindo ser intelectual, eu, com garbo e elegância digo: fui ao ‘Museu da Língua Portuguesa’ antes de pegar fogo.