Pelado, pelado...

Ano: 1972

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Foi assim...

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Naquele sábado ensolarado, bem cedo, me deparei com meu querido milharal em ruínas. Chamava-o assim, "milharal", apelido carinhoso para os quatro pés de milho que cultivava no estreito canteiro do fundo do quintal. Naquela época, residíamos em uma modesta casa de tábuas e telhas de amianto, que outrora servira como viveiro de pombos, adaptada às pressas para acomodar a minha família - eu, o caçula, minhas duas irmãs, meu pai e minha mãe. Nossa antiga moradia tinha sido condenada devido às frequentes inundações que nos custaram até nossos chinelos.

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Pode parecer exagero, e eu não sou do tipo exagerado, mas admita, dizer "milharal" é muito mais simples do que "quatro pés de milho no canteiro do fundo do quintal". Sempre fui econômico com palavras.

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Mas, voltando ao milharal devastado naquela manhã de sábado, lembrei-me das incessantes lições da minha professora sobre cuidar das plantas e dos animais. No entanto, o que os adultos fazem enquanto ensinam essas coisas às crianças? Além de pedir que sejamos bonzinhos, o que eles fazem?

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Quando meu pai percebeu minha tristeza pela destruição do milharal, explicou que precisava reforçar o muro que ameaçava desabar e que era necessário cavar uma fundação exatamente onde o milharal se encontrava.

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Enquanto isso, meu tio já havia reunido o que restava das plantas de milho, todas quebradas, pisoteadas e amassadas, e jogado no lixo.

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O sábado prosseguiu...

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Após o almoço, meus primos mais velhos, sabendo da razão da minha tristeza, prometeram levar-me à praia no domingo. Uau, praia! Sempre adorei a praia, e eu precisava de um tema para minha redação de volta às aulas. Mal conseguia me lembrar da última vez que estive na praia; a sunga que minha madrinha me deu já estava quase apertada demais. Minha mãe encontrou a sunga azul e amarela, mas estava apertada. Eu tinha crescido. Não havia outra opção.

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Fui dormir sonhando com a praia, mas o milharal ainda estava em minha mente.

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No domingo, a praia do Flamengo estava cheia! O cheiro do mar, ah... aquele cheirinho de maresia... a areia fina e branca e as pessoas com seus guarda-sóis, óculos de sol e chapéus criavam um cenário encantador naquele domingo de verão. Com cuidado para não atrapalhar as meninas bronzeadas que atraíam olhares dos rapazes, caminhamos pela extensão da orla até encontrar um lugar adequado para nos acomodarmos. Perto dali alguns meninos jogavam futebol, e crianças corriam sem rumo aparente.

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Ansioso para entrar na água, tirei meu short. Foi quando meu primo mais velho percebeu que eu estava usando a sunga ao contrário, com as pontas dos cordões na parte de trás. Sua sugestão era simples: "Vá até a água, abaixe-se, troque a sunga de lugar." Parecia fácil.

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No entanto, argumentar com adultos raramente dá certo, eles sempre acham que sabem tudo. Naquele momento, eu gostaria de dizer a ele que não me importaria de deixar a sunga daquele jeito, pois o que eu realmente queria era me divertir na água. Mas o tempo passou, e eu não disse nada. Fui em direção à água.

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Aproveitei uma onda para trocar a sunga de lugar, mas, justo naquele momento, a onda voltou e me deixou daquele jeito: sunga na mão, bunda de fora! Tive uma vontade imensa de me enterrar na areia, como um tatuí. Na verdade, o que eu queria mesmo era ser um tatuí. Um tatuí... ah, que vontade de ser um tatuí, me enterrar, me esconder, e só sair quando o sol já tivesse se posto, levando consigo as testemunhas do meu constrangimento.

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No caminho de volta para a barraca, ainda com o rosto vermelho de vergonha, me perguntei se meus primos tinham visto a cena. Como se isso não bastasse, uma menina apareceu do nada, correndo sem rumo, e esbarrou em mim. Acabamos rolando pelo chão. Ela, uma menina de pele branca e sardenta, ficou parecendo um bife à milanesa, e eu não estava em melhor estado. Ficamos constrangidos e, depois de me dar um sorriso encantador, ela simplesmente desapareceu. Eu queria fazer o mesmo.

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De volta para casa, passei a pensar sobre o tema da minha redação. Claro que não podia escrever sobre minhas trapalhadas na praia. Então, pensei na menina. Decidi escrever que nos tornamos amigos após aquele encontro na praia. Minha professora sempre dizia para sermos criativos, então não faria mal "aumentar" algumas partes da história. Escreveria que a menina me convidou para ajudá-la a plantar milho no quintal espaçoso de sua casa, onde seu pai não precisaria cavar fundação para reforçar muro nenhum. E que eles tinham um viveiro com pássaros incríveis e um macaquinho que adorava ouvir histórias.

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Claro que escreveria sobre o dia em que deixamos acidentalmente a porta do viveiro aberta, causando a fuga dos pássaros e a ira dos adultos.

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E, é claro, também mencionaria o dia em que a porta do viveiro desapareceu...

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É melhor encerrar aqui, pois isso está se tornando outra história.

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MMXXIII