Crônica dor

bem assim, burburinho, pessoas e seus pets indo e vindo, feira livre de domingo. Entre os gritos de ofertas nas bancas, outros tantos pedidos de descontos, pessoas gargalhando na barraca do pastel com caldo de cana, destaca-se de repente o círculo que se abre no meio de todos e um corpo no chão. Ele desmaiou? Passou mal? Quem é ele? Curiosos assustados, não era comum isso acontecer ali . Ei, é o Concreto Jack! Disse um ao se aproximar. Eu conheço ele, mora na zona leste, trabalhador, homem correto, só era calado e nunca sorria,mas é gente boa, continuou afirmando .

Concreto Jack foi apelidado devido ao semblante duro, sempre fechado daquele homem magro e viril. Era de conhecimento de todos seu bom coração, disposição de ajudar e também sentir-se extremamente constrangido ao ser ajudado. Pouco sabiam sobre ele a não ser o gostar de poesias e rock, flores em seu jardim singelo e a aversão pelo amarelo.

O socorro chegou, mas já não podia ajudar. Concreto Jack num mal súbito faleceu. Foram buscar documentos para identificar, mas do pouco que encontraram, uma carteira de identidade desbotada, um caderno velho com poesias rabiscadas. Curioso e profundamente comovido, um começou a ler e entendeu que o tal Concreto Jack era sozinho por escolha própria . Foi uma escolha para amenizar a dor, por respeitar seu amor. Ele amara sozinho por longos anos e naquelas linhas trêmulas era fácil entender o quanto doía e ele escolheu ficar só. Então você descansou "Concreto Jack", concluiu o leitor.