“Só os profetas enxergam o óbvio”

Dizia Nelson Rodrigues, talvez nosso maior estudioso da moral em terras brasileiras, que “Só os profetas enxergam o óbvio”.

Muitos entendem isso por uma forma de que é difícil alguém que veja e aceite a realidade, o óbvio. Eu peço meu cantinho de desculpa para discordar.

Os profetas enxergam o óbvio, porque aos profetas foi reservada a profecia. O mistério do futuro antecipado pelo enigma posto pelo profeta. Daí que, dizer que somente os profetas enxergam o óbvio, ao menos para mim, é dizer que aos profetas cabe notar não o futuro! Mas sim o passado!

E olha, como isso é difícil de perceber quando estamos falando de nós mesmos. Quando a fofoca rola, todo mundo é objeto de observação. Teses e teses. Olha, há gente Phd. em nossa vida e nem sabemos. Aos da minha, por favor, enviem para mim, nem que anonimamente. Ver-me em terceira pessoa é experiência que deve ser sem igual.

O óbvio anda perdido por aí, nas certezas do futuro anunciado por alguém. O perigo é que de tanto à frente, vemos o hoje de retrovisor. Nunca é o bastante. Mais, mais, mais.

Rotineiramente me pego no trânsito noutro lugar em minha mente, com a erupção de planos, até que sou tomado pela cena d’uma criança pedindo moedas no sinal. A reação é a mesma. Retorno ao meu lugar de origem.

E assim como temos saudades e sentimentos vivos em sonhos, é como se acordasse e chamasse aquele pequeno com copo plástico recolhendo moedas, pelo nome. Se é preciso ser realmente profeta para ver o óbvio, realmente não sei.

O que sei é que diante do que anda óbvio, é preciso que se enxergue; profetas ou não. A miséria existiu no passado, possivelmente existirá no futuro e assola o presente. E isso não é uma profecia, é somente o óbvio ululante.

Simon Lima
Enviado por Simon Lima em 05/09/2023
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