Meu tempo - BVIW
Uma das muitas graças alcançadas quando a gente se aposenta e abre o coração para esse novo tempo que se descortina, é que a vida se desacelera. Pode-se dar vazão ao desejo de contemplação; abandonar a tirania do trabalho, em cujo altar sacrificamos hoje em dia todas as nossas preciosidades; receber sem pudor a bênção que é poder andar devagar pelas ruas e observar os transeuntes; ter um sorriso gratuito para quem cruza o nosso olhar. Sentar sob as árvores num banco de parque e nos sentirmos rodeados por esse universo que nada entende da nossa luta por posses nem a eternidade da nossa pressa. Os pássaros contando as novidades uns aos outros, o vento circulando seus segredos pelas folhas, o passeio anônimo dos insetos pelos troncos e por esses mesmos bancos onde nos assentamos para finalmente cumprir nossa verdadeira missão: integrarmo-nos a esse belo mundo que pulsa e sussurra seus poemas à nossa volta e prestar atenção à essa voz.